A Coleccionadora de Ilusões (Chris Bohjalian)

Depois de ser brutalmente atacada enquanto andava de bicicleta em Underhill, Laurel fechou-se sobre si própria e dedicou-se, com um empenho obsessivo, à fotografia, a estabelecer relações com homens mais velhos e à BEDS, a organização de apoio aos sem-abrigo onde trabalha. Quando Bobbie Crocker morre, contudo, deixando para trás um misterioso lote de fotografias, a obsessão de Laurel crescerá no sentido de descobrir a solução do segredo por detrás das imagens... e o seu próprio passado ganhará uma nova vida.

Com uma escrita fluída e acessível, mas ainda assim precisa e tocante nos momentos mais profundos do enredo, o autor apresenta-nos uma história complexa. Nas suas relações com a história narrada em O Grande Gatsby, duas ficções se misturam e, à medida que as investigações de Laurel se sucedem, a história - que começou com um ritmo um pouco lento - ganha um novo poder de atracção e, na sua fase final, a dúvida é uma constante: entre a obsessão de Laurel e a esquizofrenia de Bobbie, qual dos dois teria sido mais fortemente guiado por teorias imaginárias?

Nem tudo é perfeito, claro, e o final deixa algumas dúvidas na mente do leitor. Com uma conclusão tão aberta, depois de todo o mistério que, ainda que lentamente, vai sendo apresentado, é impossível esclarecer por completo todas as questões. Pequenos traços de incoerência - talvez propositada - deixam a incerteza quanto a qual era, de facto, a verdade: se aquilo em que todos queriam acreditar, se a história de Bobbie, ou se as ligações que Laurel estabelecera na sua investigação.

E é, contudo, esta dúvida que faz com que esta história permaneça, bem depois do virar da última página, viva e presente na mente do leitor. Porque esta leitura, forte e perturbadora, mas que vale bem a pena, deixa muitas perguntas por responder. Quanto é real no que a mente nos diz? E até onde será possível subir, para depois descer ao mais profundo abismo?