sexta-feira, 26 de março de 2010

Exilados (Manuel Arouca)

Março de 1974. O dia em que Cecília descobre que está grávida é também o dia em que compreende, por fim, que não ama o marido e que não pode ter um filho dele. As convenções e preconceitos, contudo, parecem ser uma barreira insuperável e os acontecimentos desencadeados pela revolução parecem guiar a sua vida num sentido que nunca previra.
Mais que um livro sobre o ambiente político pós 25 de Abril, Exilados centra-se na vida e história das pessoas que viveram esses tempos conturbados e que, ainda que nascidos em berço de ouro, tiveram de deixar tudo para trás e recomeçar a vida longe de Portugal. E é com base na história de Cecília que muitas outras vidas se entrelaçam, esperanças e traições, ódios e amores, para criar um enredo complexo como reflexo dessa época.
Com uma escrita bastante acessível e um ritmo de história envolvente, sendo poucos os momentos mais parados, o ponto forte deste livro é sem dúvida a emoção. Numa época por si só problemática, a forma como as tragédias pessoais, as dúvidas interiores e as traições imprevistas se atravessam no caminho de cada personagem permitem estabelecer quase inconscientemente uma ligação com o leitor. E, apesar da forte componente política que poderia ser referida num livro como este, centrado numa época de mudanças, o autor opta por dar relevo às pessoas, o que torna esta obra de leitura fácil mesmo para os menos familiarizados com a circunstância da época.
Ainda de referir um ponto de bastante impacto no enredo e que, apesar da mudança dos tempos, ainda se reflecte intensamente na realidade: a forma como as convenções podem influenciar a vida pessoal, levando a hesitações com base no "que as pessoas vão pensar". Isto reflecte-se de forma muito realista no carácter de Cecília, hesitante apesar de se ter tornado num símbolo de sucesso, e a influência do preconceito nos seus actos é uma constante ao longo da história.
Uma história de amores difíceis, marcados por uma sociedade em mutação numa época conturbada, Exilados é um livro envolvente, que transmite bem a imagem do passado onde decorre e que, mais que a revolução de Abril, espelha as mudanças interiores que, por vezes, são o caminho para a verdadeira felicidade.

1 comentário:

  1. Li há já algum tempo um livro de Manuel Arouca "Deixei o meu coração em África" gostei bastante. Este, deve ser igualmente bom.
    Um abraço e parabéns pelo teu novo livro :)

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