O calor e o tédio são os únicos companheiros de Calpurnia Virginia Tate, em pleno Verão de 1899. Mas Calpurnia tem uma ideia e, ao lembrar-se de acompanhar o avô nas suas viagens ao rio, em busca de espécimes, a sua curiosidade insaciável transforma-se numa verdadeira vocação. Entre o estudo d'A Origem das Espécies e a descoberta dos segredos da natureza, os dias aborrecidos do Verão acabarão por marcar o início de um percurso muito especial.
Contado na primeira pessoa e com uma protagonista com muito a dizer, o que primeiro cativa neste livro é precisamente a personalidade de Calpurnia. Pela forma como expressa as suas opiniões, como apresenta o seu percurso de aprendizagem e as pequenas descobertas, mas também pela forma como, através dos seus sonhos, dúvidas e esperanças, uma vontade forte, ainda que invulgar para a época, ganha vida, há algo de fascinante na inocência de Calpurnia, na forma como esta se cruza com uma certa medida de rebeldia (particularmente vocacionada para as tarefas domésticas) e com uma relação muito terna com os irmãos e o avô. Jovem e, por vezes, insegura, busca algo de aprovação nos que a rodeiam, mas, no que é essencial, sabe o que quer e é isso que a torna uma protagonista interessante.
Também interessante é notar a forma como a ciência e a busca do conhecimento - nas pequenas investigações e nos passos do método científico, por exemplo - se cruzam com as rotinas essenciais e a vida social da época. As ambições de Calpurnia e o seu sonho de ser cientista contrastam com o que a mãe julga ser o adequado para uma rapariga. Mas este contraste é também evidente ao comparar Calpurnia com outras personagens: Lula e os seus trabalhos quase perfeitos, Harry na descoberta do amor e da vontade de criar uma família, Margaret e os seus planos para a filha. De temperamentos e vontades tão diferentes surgem as pequenas colisões que dão vida ao livro, numa história onde são os pequenos momentos que dão força às grandes novidades.
Tendo em conta o grande sonho de Calpurnia e a descoberta que esta partilha com o avô, o final acaba por ser algo inesperado já que deixa em aberto múltiplas possibilidades, sem revelar para o futuro da protagonista um caminho mais provável. E, mais que qualquer revelação de impacto, este final aberto acaba por deixar uma impressão de que, independentemente do futuro, importam - para a história e, quiçá, para a construção da personalidade de Calpurnia - os momentos vividos e as pequenas descobertas que fizeram, afinal, esta história. Fica, por isso, uma certa curiosidade em saber que caminho estaria reservado à jovem naturalista, mas também a ideia de um final que, não dando respostas, deixa que tudo seja possível.
Cativante, com uma escrita fluída e agradável, uma boa dose de conhecimento a descobrir e uma história onde são as pequenas coisas o que realmente importa, A Evolução de Calpurnia Tate é precisamente o que o título indica: uma história de aprendizagem e de evolução pessoal. Muito bom.
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