Paixões, caprichos e obsessões são o que define a essência de Oliver, nesta que é a história do seu percurso de vida. Em Stillbourne, onde todos se conhecem, o rumor é uma arma feroz e os sonhos devem submeter-se à rivalidade, Oliver cresce na ilusão e no egoísmo da juventude, para encontrar um caminho pessoal e retornar ao seu mundo e às suas memórias com a maturidade deixada pela passagem do tempo.
Deste livro importa dizer, antes de mais, que não é propriamente uma leitura fácil. E, contudo, não há nada de particularmente complexo a nível de escrita. Fluída, directa e envolvente, a narrativa é apresentada sem grandes elaborações linguísticas, dando destaque aos acontecimentos essenciais e à forma como estes moldam o carácter do protagonista. E é precisamente neste carácter que reside a complexidade, porque, partindo de uma adolescência marcada por iguais medidas de veneração e desejo e percorrendo o caminho até uma idade adulta onde o que deve ser se sobrepõe a sonhos e vontades, há toda uma mudança na personalidade de Oliver, e esta mudança torna-se visível nas diferentes atitudes e comportamentos que definem as relações da sua história.
Nem tudo se resume a Oliver, ainda assim. A complexidade das suas relações está directamente relacionada com as personalidades invulgares com que se cruza e tanto Evie, na primeira fase, como Bounce, na terceira, são figuras cativantes, com histórias complexas e, tal como Oliver, moldadas pela necessária adaptação ao estilo de vida de Stillbourne. É, aliás, essa submissão do sonho e da vontade ao esperado e aceitável que molda personalidades, justificando acções que, por si só, parecem difíceis de compreender.
Interessante percurso de crescimento e de adaptação às marcas da vida, A Pirâmide apresenta um retrato duro e directo - e, contudo, estranhamente cativante - da forma como o mundo em volta molda a vida de cada um. E, mais que os diferentes episódios que a constituem, é essa imagem global de uma vida em múltiplas fases que fica na memória terminada a leitura.
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