Vigiado e sob suspeita, a única opção que resta a Dexter é a de manter uma vida normal, dentro do possível. Pelo menos até descobrir uma forma de se livrar de Doakes. Mas a solução de que precisa acaba por surgir de forma inesperada quando um psicopata de métodos particularmente chocantes surge na cidade, com um passado complicado e a vingança como missão...
Tudo o que de cativante surgiu no primeiro livro desta série está também presente em Querido, Querido Dexter. O humor negro, o ritmo envolvente, a improvável empatia para com um protagonista que é - independentemente dos seus códigos e regras - um serial killer... A conjugação de tudo isto numa história cativante, cheia de surpresas e onde a voz do narrador representa algo de particularmente intrigante, resulta numa leitura quase compulsiva, onde quer as personagens quer os acontecimentos contribuem para manter constante a curiosidade em saber o que virá a seguir.
Há também todo um lado novo no que respeita à caracterização das personagens, algo de diferente (comparativamente ao primeiro livro) no que o autor deixa ver relativamente à natureza das suas personagens. Dexter, com a sua ausência de alma (ou assim o diz ele) demonstra traços de uma humanidade que (supostamente) não tem ao conviver com Rita e os seus filhos, descobrindo a sua própria capacidade de adaptação à normalidade. Deborah, feroz e determinada, mostra o seu lado sensível e vulnerável na genuína preocupação acerca do destino de Kyle. E até Doakes, o arqui-inimigo implacável, revela uma certa capacidade de racionalização ao colocar o caso acima da sua aversão por Dexter.
Se o ritmo deste livro é compulsivo desde as primeiras páginas, com acção quase constante ao longo de toda a narrativa, o final acaba por surgir, mais uma vez, como algo brusco. O essencial do enredo fica definitivamente resolvido, ainda que haja pequenos aspectos que ficam em aberto. Ainda assim, a tensão que vinha a crescer ao longo do enredo acaba por se encerrar numa solução adequada, mas algo apressada, deixando a impressão de que, nesse aspecto, um pouco mais de desenvolvimento daria mais impacto ao final.
Intrigante, com um sentido de humor estranhamente cativante e um protagonista cada vez mais invulgar, Querido, Querido Dexter conjuga as medidas certas de humor, macabro e mistério para apresentar uma leitura cativante e agradável. Interessante e surpreendentemente descontraído. Uma boa leitura.
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