Nova Iorque. Lestat de Lioncourt escolheu uma nova vítima. Mas, enquanto o vampiro vigia e persegue o homem que, de uma forma incompreensível, conquistou em si uma espécie de afecto, há algo de desconhecido que persegue o próprio Lestat. E que o assusta. Apenas quando uma conversa com um fantasma e a necessidade de proteger a filha da sua vítima surgem no seu caminho a verdadeira natureza do seu perseguidor acabará por se revelar. E Lestat poderá comprovar, por si mesmo, se Céu e Inferno existem, afinal.
Faz parte dos livros desta autora uma certa reflexão sobre os meandros da natureza humana. Através da sempre fascinante figura de Lestat, um monstro aos seus próprios olhos, a autora constrói toda uma visão sobre o que define um ser humano como tal, as acções, os pensamentos, uma natureza que talvez seja (ou não) mais definida pela malevolência que pelos rasgos de bondade... Neste livro, contudo, a reflexão vai um pouco mais longe e uma boa parte da narrativa serve como base a uma longa e detalhada visão de Deus e do Demónio, da existência e definição de Céus e Inferno e do que tornaria uma alma merecedora de um ou outro lugar. O resultado é um enredo que se desenvolve a um ritmo pausado e onde, por vezes, Lestat acaba por passar para segundo plano ante o relato de Memnoch.
Assim, depois de um início bastante cativante e onde uma certa medida de tensão mantém constante a vontade de saber mais, o ritmo abranda para dar lugar a um tom mais filosófico. E aqui os pontos mais interessantes acabam por ser a forma como a autora apresenta os passos da criação vistos pelo olhar de um anjo, bem como o encontro com a divindade e a descrição sombria e opressiva do Inferno. Nestes momentos, cria-se primeiro uma certa empatia para com Memnoch, depois a dúvida sobre quem é, afinal, o vilão e, por fim, a interrogação quanto ao verdadeiro papel de Lestat em todo o plano. O resultado é, pois, uma fase final de intensidade crescente, já que, passada a fase explicativa do livro, os acontecimentos precipitam-se. E, talvez por isso, ou talvez pela longa explicação da criação e da hierarquia divina, o final parece ser um pouco abrupto, deixando no ar algumas dúvidas quanto ao que, de facto, aconteceu relativamente ao plano do Demónio.
Num registo um pouco diferente dos livros anteriores, mais lento e mais distante das figuras e personalidades já conhecidas, mas com uma história cativante e, principalmente, uma teoria muito interessante sobre o divino, Memnoch, o Demónio acrescenta às aventuras de Lestat um lado mais filosófico e mais complexo. E também nessa vertente deste mundo o resultado se revela cativante. Sombrio, introspectivo... e muito bom.
Adorei o livro, e me fez refletir muito... mas... fiquei em muitas dúvidas sobre o final... rs
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