quarta-feira, 8 de maio de 2013

Corações Re-partidos (Ana Paula Almeida)

Durante anos, Diogo Vaz manteve duas vidas. Mas agora, que foi encontrado morto no seu táxi, o seu segredo está prestes a ser revelado. É que Diogo tinha duas moradas e, em cada uma delas, uma mulher à sua espera. Ambas foram enganadas e estão prestes a ser confrontadas com a verdade. Talvez por isso o espírito do morto ainda esteja presente. Mas, incapaz de se manifestar, Diogo pouco pode fazer. Excepto talvez insinuar-se na mente de um dos inspectores envolvidos pelo caso, um homem que também quis amar mais que uma mulher em simultâneo e que agora não sabe bem o que fazer da sua vida.
Parte policial e parte história de amor, este livro tem na conjugação entre traços dos dois géneros um dos seus pontos mais cativantes. Tudo começa com um morto e a presença do morto acaba por ser uma constante ao longo de todo o livro, ainda que não da forma esperada. Há um mistério e um crime para resolver, mas, mais que o crime, é a vida de Diogo - a sua dupla vida, aliás - o centro da história, e é-o tanto pela sua peculiar forma de amor (e pelas mulheres enganadas que deixa para trás), como pelo paralelismo entre a sua vida e a do indeciso inspector Cruz. O resultado é uma história curiosa, leve e de leitura agradável, em que o crime e a investigação são apenas uma pequena parte da história das vidas das personagens.
Este cruzamento de géneros tem pontos positivos e negativos. Os positivos prendem-se essencialmente com algumas circunstâncias inesperadas e, principalmente, com a já referida presença do morto, motivo de situações caricatas, base para alguma ironia a surgir em certos momentos e um bom meio para apresentar elementos conhecidos apenas pelo morto. Em contrapartida, o elemento romântico sobrepõe-se, em muitos aspectos, ao mistério. As respostas são apresentadas, de facto, mas de modo muito sucinto, ficando a impressão de que mais haveria a dizer sobre o lado policial do enredo. Já quanto ao romance, fica algo em aberto da história do inspector Cruz, mas há vários momentos interessantes e o ambiente geral, com as suas questões peculiares e um estranho equilíbrio entre leveza e melancolia, é também bastante cativante.
Quanto à escrita, o estilo é bastante directo, sem grandes elaborações e com a descrição resumida ao essencial. Nos diálogos, notam-se alguns discursos mais forçados, principalmente quando as personagens têm algo para explicar, mas o restante do texto é bastante agradável, surgindo algumas expressões particularmente surpreendentes. De resto, o ritmo do enredo é cativante e as palavras surgem com simplicidade, mas com fluidez, o que mantém viva a envolvência da história.
Considerados todos estes pontos, a impressão que fica é a de um livro que, não sendo absolutamente surpreendente, proporciona, ainda assim, bons momentos de leitura, com um enredo interessante, uma escrita agradável e algumas situações particularmente bem conseguidas. Gostei, portanto.

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