Há crianças que vieram ao mundo para semear o caos - nomeadamente na vida dos pais. E quem acha que ter filhos é só uma sucessão de momentos fofos e ternurentos bem pode preparar-se para a verdade... nas páginas deste livro, por exemplo. Numa vasta série de crónicas sobre as agruras da paternidade, o autor percorre todas as situações de que ninguém fala a alguém que está a pensar em ter filhos, sejam elas as vergonhas, as preocupações, os diferentes graus de irritação... e todo um leque de problemáticas capazes de dar cabo do juízo dos pais. E quem já os tem... bem, decerto que se poderá identificar com algumas das muitas experiências partilhadas neste livro.
Basta olhar para a capa deste livro e para aquele muito evidente "tudo o que as crianças fazem que dá vontade de as esganar" - para não falar no próprio título, é claro - para adivinhar que uma boa dose de experiências razoavelmente irritantes (para o protagonista, não para os leitores, entenda-se) se avizinham. Mas uma das primeiras surpresas neste livro e também um dos aspectos mais divertidos está nas pequenas biografias que abrem cada secção - biografias de famosos psicopatas que, contadas de forma sucinta e caricata, surgem como estranhamente adequadas às variadas provações (mais uma vez, do protagonista, não dos leitores) que se lhes seguem.
Mas passemos ao cerne da questão e às muitas tribulações contadas ao longo deste livro. Há dois aspectos que sobressaem: primeiro, a capacidade de contar episódios que, quando vividos, devem, na verdade, ter sido frustrantes, com um belíssimo sentido de humor; e segundo, o facto de que, experiências difíceis à parte, o afecto continua a transparecer em cada um dos textos. E isto é particularmente interessante porque, se tivermos em conta o título, é apenas expectável um certo toque de humor negro (e, oh, ele está lá...). Mas sendo facilmente reconhecível como tal, e complementado por um afecto igualmente expressivo, o resultado é um equilíbrio muito interessante, reflexo dessa mesma tal vontade de os esganar - e, ao mesmo tempo, de os proteger de tudo.
Claro que será um livro mais facilmente apreciado por quem tem filhos, até porque só quem os tem poderá entender verdadeiramente o tipo de experiências de que o autor está a falar. Ainda assim, já todos convivemos com as crianças dos outros. E é interessante considerar a forma como algumas das experiências de que o autor fala se aplicam, até certo ponto, ao contacto com qualquer outra criança. Quanto a quem tem filhos... bem, de certeza que se poderá identificar pelo menos com algumas das coisas que o autor conta.
Tudo somado, temos uma leitura leve e descontraída que traça um retrato divertido - ainda que talvez não para o protagonista - das aventuras e desventuras de se ser pai. Divertido e cativante, um bom livro para descontrair.
Título: Psicopaita
Autor: Luís Coelho
Origem: Recebido para crítica
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