Incapaz de lidar com os problemas na sua vida, Caitlin
mudou-se impulsivamente para o outro lado do oceano, mas agora sente-se só e
perdida. Não sabe ao certo o que fazer, por isso limita-se a vaguear, tentando
encontrar alguém e deixar para trás o nevoeiro que lhe turva os pensamentos. E
então, um dia, conhece Jake e ele parece ser tudo o que ela tem andado a
procurar. Até que uma promessa de conhecer a família dele se transforma em algo
diferente. Junto ao lago, um grupo de apoio isolado vive em comunidade,
partilhando tudo uns com os outros. Mas há algo de estranho nesse grupo e,
embora Caitlin questione o que se passa à sua volta, a necessidade de pertencer
é mais forte que as dúvidas. Não tarda, os seus pensamentos começam a ficar
turvos e o seu maior medo começa a emergir-lhe da própria mente… Fugir deixou
de ser possível. Ou talvez nunca tenha sido.
Um dos aspectos mais intrigantes deste livro é que, embora
leve o seu tempo a chegar às partes assustadores, há sempre nele uma certa aura
inquietante, como uma estranha sensação que diz que há coisas mais negras para
vir. E assim, o que começa como uma história um pouco triste (embora
intrigante) sobre uma rapariga que deixou tudo para trás para não encontrar
nada melhor do outro lado, não tarda a transformar-se numa narrativa mais
perturbadora, sobre pessoas que parecem viver em tranquila comunhão, mas que na
verdade guardam segredos no seu seio. Tudo evolui gradualmente, mas de forma
envolvente. E, à medida que as páginas passam, a intensidade aumenta. E os
últimos capítulos… bem, são simplesmente assustadores.
Também surpreendente, e uma das grandes forças deste livro,
é o facto de, apesar de haver segredos perturbadores e episódios assustadores a
acontecer, o caminho nunca é previsível. A comunidade não é, obviamente, o
refúgio que devia ser, mas as coisas más que acontecem nunca são as mais
expectáveis. E, ao contar a história do ponto de vista de Caitlin, o impacto
deste percurso sai reforçado, pois muitos dos segredos obscuros têm origem na
manipulação da mente, e a autora dá-lhe o tom ideal ao narrar tudo pela voz por
vezes confusa da protagonista.
Há também muitas questões relevantes a ter em conta ao longo
desta história: a ideia de comunidade e as possibilidades de adaptar este
conceito a intenções perversas; a doença mental e o impacto que tem sobre a
família; a impressão de crença, de querer, e como a mente constrói narrativas
reconfortantes para se adaptar ao objectivo desejado. Tudo isto está, de algum
modo, presente na história de Caitlin e o facto de estas questões pertinentes
surgirem da narrativa de forma totalmente natural e sem diluírem a intensidade
global do enredo é outra das muitas qualidades deste livro. E, no fim, tudo o
que precisa de ser dito está lá. E o que não está… bem, faz sentido que fique
por dizer.
A soma de tudo isto é, portanto, um livro intenso e
misterioso, com grandes (mas falíveis) personagens e uma história que vagueia
pelos labirintos da mente para criar uma teia de intensas e intrigantes
surpresas. Envolvente, inesperado e fascinantemente construído, uma leitura
bastante impressionante, e um livro que não posso deixar de recomendar.
Título: The
Room by the Lake
Autora:
Emma Dibdin
Origem:
Recebido para crítica
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