Tom Hazard tem o aspecto de um homem de quarenta anos - mas, na verdade, a sua idade conta-se em séculos. E, no decurso da sua longa vida, amou, perdeu, sofreu injustiças, teve vontade de morrer... e sobreviveu. Pelo caminho, conheceu alguns famosos do passado, foi recrutado (até porque não tinha escolha) para uma misteriosa sociedade e nunca mais voltou a permitir-se sentir por ninguém. Mas agora Tom sabe que não pode continuar assim e sente que precisa de voltar ao lugar onde tudo começou. De novo em Londres, como professor de história, Tom revisita as memórias de um passado demasiado longo, ao mesmo tempo que um sentimento indesejado - mas não desagradável - começa a nascer. Mas quem entra na sociedade não volta a sair com vida. E o seu estranho mentor está atento ao comportamento de Tom.
Impressionante desde as primeiras frases e até ao fim, este é um livro em que todos os aspectos são fascinantes, mas em que, inevitavelmente, o primeiro a sobressair é a escrita. Matt Haig formula pensamentos com uma mestria tal que, de início, é inevitável a vontade de começar a tomar notas das citações. (E depois já são tantas as citações notáveis que o mais provável seria tomar nota do livro inteiro.) Há tanta beleza nas palavras, tanta naturalidade na forma como tudo flui e, principalmente, uma sensação tão forte de que tudo se exprime da forma ideal, que é irresistível o apelo de esquecer o mundo, parar o tempo e mergulhar na leitura sem interrupções.
E a escrita é apenas o início, pois personagens e enredo são também igualmente marcantes. O enredo, porque há na história de Tom ao longo dos séculos - e principalmente no presente - todo um percurso de aventuras e de perigos e perdas e descobertas e cada momento é intenso e cativante. As personagens, porque ninguém é perfeito, mas todos são perfeitamente construídos. E Tom... Bem, Tom é um protagonista fascinante, profundamente humano na sua diferença, capaz de sentimentos imensos e de ainda maiores vulnerabilidades, consciente e crédulo consoante os fluxos da vida.
O que me leva ao que é, para mim, o verdadeiro pináculo desta leitura: a emoção. Durante a sua longa vida, Tom lidou com todo o tipo de situações e pessoas e esse percurso está, naturalmente, pejado de emoções intensas. Mas a forma como estas emoções se manifestam, tanto em pensamentos certeiros como em momentos pura e simplesmente devastadores, nunca deixa de surpreender e de marcar. E mais. Há em todo este longo percurso tantas raízes de empatia que compreender Tom faz-nos sentir também um pouco compreendidos. E isso... bem, isso é uma magia especial.
Que mais se pode pedir a um livro? Por toda a beleza das palavras, bem como pela emoção e proximidade que história e personagens despertam e pela sempre fascinante aventura da longa vida de Tom Hazard, a verdade é que, no fim, fica-se de coração cheio. Magia - é isso que se encontra nas páginas de uma boa leitura. E este livro é, de facto, pura magia. Maravilhoso.
Título: Como Parar o Tempo
Autor: Matt Haig
Origem: Recebido para crítica
Fiquei curiosa, é só romance ou também é fantasia/ sci-Fi?
ResponderEliminarBem, o Tom tem uma condição que faz com que viva durante séculos, por isso podemos considerar que tem alguns elementos de ficção científica.
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