O casamento de D. Manuel de Sousa Coutinho e de Dona Madalena de Vilhena pode ter sido por amor e trazido à vida a luz dos olhos de ambos - mas há presságios e agouros sombrios que se recusam a desaparecer. O primeiro marido de Madalena terá morrido em Alcácer-Quibir, mas há ainda quem duvide desse facto. E, quando um acto de resistência ao domínio filipino leva Madalena a regressar a casa do seu primeiro marido, os presságios começam lentamente a ganhar forma... e a chegada de um misterioso romeiro traz consigo uma mensagem capaz de lançar por terra a paz dos últimos anos. Quem é o romeiro? Ninguém? Muito mais que isso, na verdade...
Provavelmente, esta não será uma história nova para muitos leitores. Afinal, ficámos a conhecê-la na escola. Mas uma das coisas mais interessantes de voltar a estes livros que dissecámos até à exaustão é que, ao lê-lo simplesmente pelo prazer de ler (e também, talvez, com uma mente mais adulta) se fica com uma perspectiva muito diferente do livro. Sobressai mais o conteúdo, menos a forma. E as peculiaridades tão detalhadamente dissecadas vêem-se agora como um todo mais harmonioso.
Voltar a esta peça é recordar também o contexto histórico em que tudo decorre, e é interessante notar como toda a informação pertinente está presente nos diálogos das personagens. Além disso, e apesar dos longos diálogos (e ocasionais monólogos) das personagens, é também curioso o facto de nunca o texto se tornar aborrecido. Aliás, muito pelo contrário, já que o constante dramatismo, que inclui até uns quantos excessos, confere a tudo uma estranha intensidade que torna quase irresistível o exercício de imaginar como será ver esta peça levada a palco.
Nem tudo é claro. Nem tudo encontra respostas. O drama foca-se principalmente nos protagonistas e, por isso, há personagens igualmente fascinantes que passam inevitavelmente para segundo plano. Mas, tal como na vida ficam mistérios por desvendar, também aqui faz um certo sentido que o resto fique para trás quando tudo culmina de uma forma tão dramática. E os restantes... bem, os restantes serviram o seu objectivo.
No fim, fica a sensação de um belíssimo regresso, visto agora com menos regras e com um olhar mais ponderado. E a impressão de que, tal como o que se aprendeu continua presente, também a nova perspectiva permite ver esta peça como aquilo que é: um drama por vezes bizarro, por vezes melodramático, mas sempre intemporal.
Título: Frei Luís de Sousa
Autor: Almeida Garrett
Origem: Aquisição pessoal
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