Natasha está desesperada. Por causa de um erro absurdo do pai, sabe que nessa noite será deportada para a Jamaica e, por mais que pense, não consegue encontrar uma forma de resolver a situação. Mas isso não a vai impedir de tentar até ao fim. E é em plena tentativa que o seu caminho se cruza com o de Daniel, o rapaz coreano-americano que vai a caminho da entrevista que fará do seu futuro aquilo que os pais querem para ele. Daniel não sabe bem o que quer da vida, mas uma coisa é certa. Desde o momento em que vê Natasha pela primeira vez, ele sabe que estão destinados um ao outro. Demasiadas coincidências juntaram-nos naquele lugar. Não pode ser só um acaso, pois não? Mas Natasha sabe que o seu futuro não é ali e não quer apaixonar-se. E Daniel, por mais persistente que seja, talvez não seja capaz de romper essa barreira intransponível.
Contado em grande parte pela voz dos protagonistas - mas com alguns interessantes interlúdios para dar lugar à história de algumas personagens mais discretas, mas bastante relevantes - este é um livro que marca, acima de tudo, pelo impacto emocional que vai despertando ao longo de toda a história. Basta a situação de Natasha para despertar empatia imediata, é certo. Mas cada momento, venha ele das grandes esperanças e perdas ou das pequenas partilhas e descobertas especiais, deixa uma marca no coração. E assim, aos poucos, Natasha e Daniel vão-se tornando personagens queridas, com a força das convicções e as tão claras vulnerabilidades e aquela estranha mistura de mágoa e de inocência que abre caminho a uma idade adulta onde as consequências serão sempre mais graves.
Também bastante marcante é que, se olharmos para a linha geral do enredo, a base parece ser muito simples: a história de um primeiro amor. Mas há tanto de único nesta história e tantas pequenas complexidades subjacentes - desde as questões raciais aos arrependimentos pessoais, passando pelas barreiras burocráticas e a descoberta de que nem tudo tem explicação e muito menos solução - que, no fim do caminho, a imagem que fica é a de muito mais do que uma simples história de amor. Claro que a história é, acima de tudo, a de Natasha e Daniel, mas há todo um mundo à volta. E se, desse mundo, ficam algumas perguntas sem reposta, isso é apenas adequado, pois a vida também não dá todas as respostas.
Há ainda um outro ponto a realçar: a estrutura. Construída num sistema de capítulos curtos em que o ponto de vista vai alterando entre os dois protagonistas (e, ocasionalmente, uma ou outra personagem secundária) a história rapidamente ganha um ritmo intenso. Primeiro, porque a forma como tudo evolui facilmente se torna viciante, sendo quase irresistível a vontade de ler mais um bocadinho - e outro e outro - para saber o que acontece a seguir. Mas também porque a própria estrutura do livro potencia este efeito, com a sua escrita simples e os capítulos breves, maximizando a forma como cada momento se repercute nas personagens e, de certa forma, passando um pouco desse impacto para o leitor.
Somadas as partes, fica a ideia de uma história aparentemente simples, mas onde a magia inocente da descoberta do primeiro amor serve também de pano de fundo a um caminho onde as dificuldades da vida nunca deixam de estar presentes. Intenso, viciante e comovente nos momentos certos, um livro para guardar na memória bem depois de terminada a leitura. E que recomendo, naturalmente.
Título: O Sol Também é Uma Estrela
Autora: Nicola Yoon
Origem: Recebido para crítica
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