É a primeira vez em muito tempo que os Birch vão passar o Natal juntos, embora não seja uma opção totalmente voluntária. Olivia esteve na Libéria numa missão humanitária e agora tem de passar - juntamente com toda a família - uma semana de quarentena. E a verdade é que as relações não são propriamente fáceis. Principalmente quando todos parecem guardar algum segredo. Olivia não cumpriu estritamente as regras na Libéria. Andrew, o pai, acaba de descobrir que tem um filho que nunca conheceu. Emma foi diagnosticada com um cancro. E Phoebe, a sempre caprichosa irmã, acaba de ser pedida em casamento, mas não está tão feliz quanto devia. Fechados na mesma casa, não é o amor que os une que vem a tona, mas os pequenos atritos e as grandes irritações. E eis que, quando parece que a situação não pode piorar, os segredos começam a vir à tona...
Acompanhando a perspectiva das diferentes personagens e, portanto, também os seus diferentes sentimentos, este é um livro que surpreende, em primeiro lugar, por estar tão longe da harmonia familiar perfeita. Com os seus segredos e conflitos familiares, bastam alguns capítulos para perceber que os Birch não são propriamente uma família feliz. E é precisamente este ponto de partida que torna a história tão interessante: é que podem nem sempre gostar muito uns dos outros, mas são família, e os dias passados na companhia forçada uns dos outros, abrem caminho a uma muito interessante evolução.
Tendo em conta que tudo começa com atritos e divergências, a impressão inicial será sempre a de se estar a descobrir uma família disfuncional. Mas isso rapidamente muda. À medida que a história progride e as emoções das diferentes personagens vêm à tona, o que parecia disfuncional acaba por se revelar apenas complexo e também os atritos começam a dar lugar a uma ligação mais forte. Além disso, com os segredos e as dificuldades, vem também um percurso de aproximação e um crescendo emocional que faz com que as personagens que, de início, não nos diziam assim tanto, se tornam surpreendentemente memoráveis. Não deixam de ter os seus defeitos, claro, mas é precisamente isso que as torna tão reais.
Fica também a muito cativante (e surpreendente) sensação de se estar a acompanhar uma história completa e muito mais vasta do que apenas os sete dias da quarentena. Há temas relevantes e pequenos rasgos de leveza, grandes alegrias e ainda maiores sofrimentos, expectativas, motivos de ansiedade, afastamentos e aproximações. É, como diz o título, uma vida em (um pouco mais de) sete dias, com todas as descobertas, angústias e revelações que isso implica. E, entre os momentos divertidos e as explosões de emoção, as tensões e reconciliações e o final avassalador, as personagens tornam-se muito, muito mais próximas... e a história muito, muito marcante.
História de conflitos e afectos familiares, mas, acima de tudo, de vidas vulneráveis, trata-se, pois, de uma leitura cativante, surpreendente e repleta de momentos memoráveis. Marcante, divertido e comovente em todos os momentos certos, um livro para recordar por muito tempo. Muito bom.
Título: A Nossa Vida em Sete Dias
Autora: Francesca Hornak
Origem: Recebido para crítica
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