Um acidente de viação numa noite de tempestade leva um homem que viajava por uma região remota da Dinamarca a um misterioso castelo. O proprietário é um velho conde que, embora suficientemente amistoso, parece carregar um grande peso em cima dos ombros. A esposa está a dar à luz no andar de cima, mas há uma maldição na família que dita que ele nunca terá um herdeiro. Dada a presença do seu hóspede inesperado, o conde decide partilhar a história da família. Mas essa noite está também associada à misteriosa maldição. E embora céptico, de início, o hóspede não tarda a começar a acreditar...
Se conhecem os meus hábitos de leitura, é provável que esta opinião seja uma surpresa, porque não me dou lá muito bem com o formato ebook. Mas, se estamos a falar de um conto de um dos meus autores favoritos - e uma belíssima forma de passar o tempo enquanto espero por mais Erlan - então eu abro uma excepção. Aqui estou eu, portanto, a mais lenta de todas as leitoras (em formato digital), a escrever sobre um conto estranhamente viciante lido em ebook.
Falemos dele, então. Um dos aspectos mais impressionantes nesta pequena história é que, apesar de relativamente breve, parece atingir o equilíbrio perfeito entre os seus vários elementos. O aspecto mitológico, associado, bem, ao mistério da maldição e à noite escura e tempestuosa em que tudo acontece, cria um equilíbrio delicado e intrigante que nos puxa desde o início para dentro da história e não nos larga mais até ao fim. Parece, além disso, ter precisamente a medida certa: o cenário sombrio é descrito com precisão, tal como os fundamentos essenciais da maldição familiar, mas a história nunca se torna demasiado lenta. Muito pelo contrário: é fácil imaginarmo-nos na posição do narrador, a contorcermo-nos na cadeira com a vontade de saber mais... ao mesmo tempo que nos questionamos sobre a tempestade lá fora e o que poderá realmente significar.
Também impressionante é que, embora muito diferente das The Wanderer Chronicles, é possível sentir a mesma vibração, não só na escrita belíssima e no ritmo intenso da narrativa, mas também nas personagens. O narrador é uma personagem céptica - numa situação a modos que sobrenatural. Por isso, é de esperar que não lide lá muito bem com aquilo. Isto torna-o falível e humano - e, principalmente, cria um contraste bastante engraçado com a figura sombria e atormentada do conde. É fácil sentir com eles - de formas distintas. No caso do narrador, são as situações embaraçosas em que parece meter-se. E quanto ao conde... bem, é tudo. E, no fim, tudo converge para um final equilibrado, com todas as respostas necessárias e uma conclusão adequada para a questão da maldição... mas deixando também o suficiente à imaginação do leitor. Pois o que é um mistério sem fios de possibilidades?
Nem sempre uma história precisa de ser grande para se tornar uma grande história. E, com a sua aura de mistério, as personagens intrigantes e uma forma belíssima de contar a história, este conto tem tudo o que precisa. Uma leitura breve, portanto, mas bastante impressionante. E uma história que não posso deixar de recomendar.
Título: A Winter's Night
Autor: Theodore Brun
Origem: Aquisição pessoal
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