Kyle sempre foi perseguido por demónios, ou seja o que for que aquelas entidades são, mas agora a situação tornou-se de forma ainda mais dramática. Depois da mãe e da mulher, é agora a irmã quem está afectada e Kyle sabe que tem pouco tempo para a salvar. E, mesmo que consiga, isso será sempre apenas o início. Enquanto proscrito, sabe que atrai e desperta o ódio daquelas criaturas, principalmente agora que começa a perceber como funcionam. E enquanto Kyle conta apenas com a ajuda do reverendo, já os seus adversários parecem ser legião... e ter um grande plano em mente.
Seria de esperar, talvez, que, ao terceiro volume da série, não houvesse muito de novo a dizer sem revelar demasiado das linhas centrais - e das muitas surpresas - da história. Mas não é bem assim. É que, embora os mistérios em si sejam uma parte fundamental do impacto da leitura (e, claro, não se pode dizer muito sem estragar esse impacto) há também outro tipo de desenvolvimentos, a nível das personagens e das suas relações, que vão também ganhando um impacto crescente. É o caso das descobertas que Kyle vai fazendo sobre os... chamemos-lhe demónios, mas também sobre aquilo que o torna diferente. E, claro, esta contextualização gradual surge no meio de um enredo repleto de acções e de reviravoltas, o que faz com que cada nova descoberta seja muito mais intensa.
Algo que continua também muito presente - além, é claro, dos estranhos entes que parecem estar na base de tudo - é o misto de horror e tristeza que parece moldar agora todo o caminho de Kyle. Horror ante algo que vai descobrindo ser cada vez mais negro e mais vasto. Tristeza por uma vida desolada e cercada de desolação. O resultado é esta sensação ambígua e fascinante de contraste entre o choque e a empatia, de, por um lado, querer desvendar os mistérios e, por outro, querer ver mais do que se passa na pobre e atormentada alma de Kyle.
Sem surpresas, até porque é mais um elemento comum aos volumes anteriores, isto reflecte-se tanto nos diálogos certeiros, como nos tons sombrios da arte e nas expressões das personagens. Mas há aqui também um outro aspecto que importa destacar: é que há subjacente a tudo uma tão grande intensidade que há tanto de surpreendente nas principais cenas de acção como nos momentos de isolamento e de melancolia que surgem no entretanto. Como uma mistura de causa e consequência - porque há sempre consequências. Sempre.
E no fim... Bem, no fim, fica uma vontade irresistível de começar logo a ler o volume seguinte, até porque parecem ser característicos desta série os finais onde não só tudo é deixado em aberto como as personagens ficam numa situação sensível. E a deste livro... é particularmente delicada.
Intenso, sombrio e absolutamente viciante, trata-se, portanto, de mais um volume que excede amplamente as expectativas, deixando aquela deliciosa avidez de quer saber mais, ler mais, descobrir mais... o mais rapidamente possível. Muito, muito, muito bom.
Título: Outcast, Vol. 3: Uma Pequena Luz
Autores: Robert Kirkman e Paul Azaceta
Origem: Recebido para crítica
Sem comentários:
Enviar um comentário