quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O Cálice de Ferro (Robert Holdstock)

De volta a Alba, onde, protegidos na Terra dos Fantasmas, os filhos de Urtha esperam o regresso do pai, Merlim é visitado por três entes sobrenaturais que lhe trazem um presságio. Isso basta-lhe para saber que a ligação entre o seu caminho e os de Urtha, Jasão e Medeia está longe de ter sido cortada. Mas Jasão é agora um inimigo e o seu regresso é algo a temer. Já Urtha, quando voltar, terá de recuperar o seu território a um exército de fantasmas, dos mortos e dos ainda por nascer. No centro de tudo, está Kinos, o filho ainda desaparecido de Jasão. E, mais uma vez, Merlim está entre forças que se confundem. Entre a mesma Medeia que em tempos amou e que, agora, parece novamente ter deixado de ser uma inimiga, Jasão, que jurou a sua morte, mas que quer, afinal, apenas recuperar o filho, e Urtha, que tem as suas próprias batalhas a travar. E Niiv, a sempre estranha Niiv, dona de um poder que não compreende e desperdiça, e que quer somente ficar perto de Merlim.
Seguindo na sequência dos acontecimentos de Celtika, este livro surpreende, desde logo, pela forma como o rumo das personagens começa a divergir. No primeiro volume, e apesar dos propósitos pessoais de Urtha, o objectivo essencial era descobrir o paradeiro de um dos filhos de Jasão, e era esse projecto o elo de união entre os principais protagonistas do enredo. Agora, os seus destinos divergem, e cada um parece ter um propósito diferente, ainda que todos os caminhos se cruzem em Alba. À busca por Kinos, missão de Jasão, junta-se a reconquista de Taurovinda e, depois, o conflito com os fantasmas, objectivo essencial de Urtha. Objectivos diferentes, que parecem não ter grande relação, mas que, através dos olhos de Merlim, se revelam nas suas ligações inesperadas e que, apesar das suas aparentes divergências, acabam por se revelar como intimamente ligados, como comprovam as revelações finais.
Estes rumos aparentemente diferentes, aliados à expectável componente descritiva, no que diz respeito ao contexto e a alguns elementos mitológicos que vão sendo inseridos no enredo, conferem à narrativa um ritmo relativamente pausado, até porque os momentos de espera são tão relevantes para a história como os de maior acção. Ainda assim, nunca se perde a envolvência, já que cada momento, mesmo o mais simples, contribui para maximizar o impacto dos grandes momentos. Há, além disso, pequenas ligações ao futuro - como a presença do Pendragon - que tornam mais natural a forma como a história é apresentada. Tudo decorre antes de Artur, mas Artur está presente, e isso cria a ligação entre o Merlim da história e o das muitas versões mais conhecidas.
Importa ainda referir a interessante evolução a nível das personagens, tanto nas mais relevantes, como em figuras aparentemente secundárias. De Jasão, que se afasta a cada acção do papel do herói, e de Medeia, que, na sua ligação a Merlim e aos filhos, se revela bem mais humana do que aparentava ser, mas, principalmente, do próprio Kinos, cuja verdadeira natureza é um elemento essencial da surpreendente conclusão deste livro. Conclusão que, tal como no primeiro volume, marca também pelo culminar de uma busca em que o que se encontra não é bem o mesmo que se procura.
São bem diferentes, portanto, os rumos deste livro relativamente ao primeiro volume e a evolução da história é notável. As personagens crescem em complexidade, o mesmo acontecendo com o enredo, sem que se perca a envolvência e a proximidade emocional com os protagonistas. Este é, por isso, um livro que não desilude, depois das expectativas criadas pelo início da trilogia, e que, com a sua história cativante, personagens carismáticas e final intenso, deixa, também, a melhor das impressões. Recomendo.

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