sábado, 31 de janeiro de 2015

O Diário Poético de um Empregado de Balcão (Didier Ferreira)

Impressões de histórias, com mais de introspecção que propriamente de acção e, apesar disso, com um impacto surpreendentemente forte. Assim são os textos que dão forma a este livro, mais próximos do conto, pela estrutura, mas da poesia, pela forma de expressão. E sempre estranhamente envolventes, mesmo quando o percurso é mais pelo interior de uma personagem ou do próprio narrador.
Todos os contos - se assim lhe podemos chamar - são bastante breves e relativamente simples. Nalguns deles, na verdade, fica a impressão de uma construção maior, da qual apenas uma parte é revelada. E, ainda assim, há na forma como as palavras se conjugam uma estranha harmonia. É como se, mesmo sem conseguir compreender por completo as motivações ou os pensamentos da personagem, fosse possível sentir alguma ligação para com as suas circunstâncias. 
Isto não se deve, naturalmente, a uma evolução em termos de enredo, já que este se resume ao essencial, mas precisamente à escrita. Há uma fluidez nas palavras que torna as ideias mais próximas e as impressões mais intensas. E, numa história feita, acima de tudo, de momentos e de impressões, esta sensação de harmonia e de proximidade torna-se particularmente cativante.
Ficam, é claro, perguntas em aberto. Mas não parece ser, de forma alguma, o objectivo contar uma história completa com todos os pormenores. A história é a do momento e das impressões que lhe estão associadas. E, nesse aspecto, todos os contos atingem um resultado satisfatório, já que todos eles são, de alguma forma, reflexos de momentos memoráveis.
E o que fica, então, desta leitura é a impressão de um relance aos momentos de algumas vidas. Simples, mas com um estilo de escrita fascinante, pode ser uma leitura breve, que deixa tantas perguntas como respostas. Mas não deixa de ser, ainda assim, uma leitura cativante.

2 comentários:

  1. Que leitura excelente, a que fez deste pequeno denso livro. Creio que nem eu próprio conseguiria ser tão objetivo como a Carla foi. E, aprecio também a sua capacidade de escrita, Carla. Um beijo. Que a estreia seja a primeira estrela avistada num princípio de noite escura, bela.

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  2. Que leitura excelente, a que fez deste pequeno denso livro. Creio que nem eu próprio conseguiria ser tão objetivo como a Carla foi. E, aprecio também a sua capacidade de escrita, Carla. Um beijo. Que a estreia seja a primeira estrela avistada num princípio de noite escura, bela.

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