domingo, 6 de janeiro de 2019

A Vendedora de Azevinho (Dilly Court)

Angel Winter foi abandonada em bebé, mas teve a sorte de ser acolhida por uma senhora bondosa. Por isso, embora não conhecendo as suas origens, teve uma infância feliz. Mas eis que, de repente, tudo desaba e Angel vê-se atirada para as ruas, onde tem de vender flores para sobreviver. Tudo por uma inimizade que a desconhece, mas que está destinada a persegui-la. Pois, mesmo quando encontra uma saída para a sua situação penosa, os olhos do implacável Galloway continuam a segui-la. E, para lhe fazer frente, Angel terá de batalhar. 
Abrangendo um longo período de tempo e várias situações e famílias distintas, embora tendo sempre Angel como ponto central, esta é uma história em que certos aspectos parecem ter inevitavelmente de passar para segundo plano. Há saltos temporais significativos, o que significa que algumas facetas da história (como a aceitação pelo marido de Cordelia, a situação de Hector e até a adaptação a Grantley) são descritas de forma muito breve. Ainda assim, e embora fique uma certa curiosidade em saber mais sobre estes aspectos, não deixa de ser notável a forma como tudo o que é essencial está realmente presente. A partir da vida e das relações de Angel, é possível ver os outros. E o percurso contado é suficientemente intenso para compensar aquilo que fica por dizer.
Angel é, evidentemente, a heroína da história e o seu percurso tem muito de marcante, não só pela situação de vulnerabilidade, mas principalmente pelas forças que vêm à tona. Mas há também outras personagens a sobressair e, se algumas delas são contraditórias, como Sir Eugene e Susannah, isto também acaba por contribuir para realçar a diversidade das personagens. Não há muita gente perfeita nesta história, com excepção talvez de Angel, quase perfeita heroína, e de Galloway, um absoluto vilão. 
E, claro, é também importante notar a forma como a autora introduz certos problemas da mentalidade da época ao longo da sua história: além da vulnerabilidade resultante de se ficar sem rendimentos, o preconceito para com os de origens inferiores ou desconhecidas está bem presente nos comportamentos de algumas personagens, bem como a questão dos casamentos combinados com objectivos financeiros. Além de interessante em si mesmo, este contexto torna mais marcante a história de Angel e dos que a rodeiam, pois todo o percurso está pejado de decisões difíceis que implicam fazer frente ao que se considera normal.
Cheia de intrigas e de personagens interessantes, trata-se, pois, de uma história emotiva, cativante e cheia de momentos fortes. Uma história de luta e de esperança - e também de amor e reencontro. E uma boa leitura, naturalmente.

Autora: Dilly Court
Origem: Recebido para crítica

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