segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Os Cavaleiros de Heliópolis - Nigredo|Albedo (Alejandro Jodorowsky e Jérémy)

Durante milénios, a sociedade secreta conhecida (entre os seus membros, entenda-se) como Cavaleiros de Heliópolis manteve uma existência invísivel, partilhando os seus segredos apenas com aqueles capazes de superar as mais terríveis provas iniciáticas. Mas é chegada finalmente a hora de conduzir pelo caminho alquímico um iniciado muito especial. Trata-se de Luís XVII, herdeiro legítimo do trono de França, mas destinado a um percurso muito diferente e cheio de dificuldades. Pois a iniciação não termina com a entrada na sociedade. Esperam-no grandes desafios - e a possibilidade, talvez, de moldar o futuro da humanidade.
Conhecem aquela expressão que diz que não se deve julgar um livro pela capa? Bem, neste caso podem. Até porque, com uma capa e contracapa destas, as expectativas não podem ser senão as melhores. O primeiro impacto é como que a imagem visual de uma mistura entre Assassin's Creed e Trinity Blood. E uma das primeiras surpresas é que, embora o interior esconda algo diferente, com uma identidade muito própria, os temas e as ligações históricas fazem com tudo acabe, ainda assim, por ir ao encontro dessa belíssima expectativa inicial.
Outro aspecto que sobressai é que, sendo um livro grande, facilita a apreciação dos muitos pormenores escondidos na arte, sejam eles uma expressão de pasmo ante uma oportuna revelação em pleno combate, os símbolos escondidos nas vestes dos mestres alquimistas ou as simples semelhanças entre personagens aparentemente sem qualquer relação, sendo esta última especialmente importante tendo em conta o desenrolar dos acontecimentos. Junte-se a isto o traçado dos cenários, particularmente notáveis precisamente pela sua vastidão, mas também pelo contraste entre os diferentes períodos históricos retratados, e o resultado é um livro que, além de fascinar pela história, fica na retina pela beleza da arte - nos cenários estáticos, nos estádios alquímicos e principalmente nas sequências de combate.
O que me leva ao que será talvez o aspecto mais intrigante neste livro em que basicamente tudo é intrigante: a cuidadosa teia de história e misticismo que define toda esta aventura. História que abrange os últimos dias de Luís XVI, a revolução, o regresso da monarquia e os primeiros triunfos de Napoleão. Misticismo, que não se cinge à mera existência de uma sociedade secreta, debruçando-se amplamente sobre os seus rituais, simbolismos e práticas iniciáticas. E, no meio de tudo isto, a história de uma personagem misteriosa, tão enigmática no princípio como no final deste volume, mas estranhamente fascinante no papel que tem para desempenhar.
Tudo converge, pois, para um todo harmonioso: cenários belíssimos, sequências de combate que são pura harmonia, diálogos brilhantes e um conjunto de desenvolvimentos que, embora cuidadosamente entretecidos na história, traçam os passos de um caminho algo diferente. Belo ao primeiro contacto e ainda mais ao chegar ao fim, é também, à sua maneira, uma obra alquímica. Daquelas que vale mesmo a pena conhecer.

Autores: Alejandro Jodorowsky e Jérémy
Origem: Recebido para crítica

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