sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Crime no Expresso do Oriente (Benjamin Von Eckartsberg e Chaiko)

Célebre pelo seu luxo e conforto, o Expresso do Oriente vai invulgarmente cheio para aquela altura do ano, mas, ainda assim, ter amigos em posições de destaque ajuda e o famoso detective Poirot consegue um lugar para a viagem. Longe está ele de imaginar que conseguirá também um caso. Na mesma noite em que o comboio fica preso num banco de neve, um passageiro particularmente irascível é encontrado morto. E, dado que não falta ninguém nem havia propriamente uma abundância de vias de fuga, há uma coisa que é certa: o assassino continua no comboio. É, pois, hora de Poirot por as suas celulazinhas cinzentas a trabalhar... no que pode muito bem ser o mais desconcertante dos seus casos.
A primeira reflexão a emergir desta leitura é, sobretudo, de curiosidade: curiosidade com a forma como, através de um formato diferente, a mesma história pode ganhar outra vida. Não se trata propriamente do meu romance favorito de Agatha Christie, em grande parte devido à resolução final, mas é interessante notar que, ao dar às coisas uma versão visual, esse final ganha todo um outro impacto, o mesmo se aplicando à envolvência e à sucessão de pistas. Além disso, tendo em conta essa mesma resolução, os rostos das personagens - e particularmente a sua expressividade - ganham especial importância.
Outro aspecto a sobressair desta adaptação é que, sendo relativamente breve, e deixando parte dos elementos de contexto e caracterização (principalmente dos cenários) à parte visual, os momentos mais reveladores acabam também por ter outro impacto. Junte-se a isto o contraste entre o ambiente luxuoso e os tons sombrios que envolvem a revelação final e é como se a história se tornasse mais ominosa, mais intrigante. Mais memorável, enfim.
E, claro, importa referir que, apesar desta impressão divergente, o rumo do enredo é essencialmente fiel ao original, o que talvez possa esbater parte do factor surpresa para quem já sabe como a história termina, mas não lhe retira nenhuma da envolvência e da muito agradável aura de mistério. Além disso, é sempre agradável reencontrar Poirot e - neste caso específico - vislumbrar um laivo de humanidade por entre as sombras da sua frieza racional.
Fiel ao romance que lhe serve de base, mas capaz de lhe acrescentar profundidade e impacto através do desenvolvimento dos cenários e, sobretudo, da expressividade das personagens, trata-se, pois, de uma interessante e cativante adaptação.Para os fãs do original e também para os recém-chegados a esta história.

Autores: Benjamin Von Eckartsberg e Chaiko  
Origem: Recebido para crítica

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