quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Camilo, o Camaleão (Hannah Peckham e Stephanie Jayne)

O Camilo é um camaleão, o que significa que devia mudar de cor consoante o que estivesse a sentir. Bem, mas não é isso que acontece, o que faz com que ele se sinta um pouco perdido ao ver que todos os seus amigos conseguem comunicar através da cor, mas ele não. Mas será que isso é mesmo assim tão mau? Talvez não. Afinal, ao não comunicar através da cor, o Camilo descobre que tem outras formas de o fazer. E entender essas alternativas... pode muito bem ser o que lhe faltava para se aceitar tal como é.
Parte do encanto de ler livros infantis enquanto adultos é o misto de nostalgia e revelação que surge ao contemplar as coisas simples. Nostalgia porque lembra a forma como bastava a mais simples e breve das histórias para projetar mentalmente um mundo inteiro. Revelação porque vemos que as mensagens mais simples podem ser também as mais importantes, e não deixaram de o ser só porque crescemos.
É exatamente este misto de sensações que este livro evoca. Nostalgia, porque a história é realmente muito simples, lê-se num instante, mas é fácil imaginar o mundo que desabrocharia dela em tempos mais inocentes. Revelação, porque esta mensagem de reconhecimento das emoções, de aprendizagem sobre como lidar com elas e da aceitação daquilo que somos, mesmo que não sejamos exatamente iguais aos outros, é tão importante de aprender e de recordar na infância como na idade adulta. E é sempre bom lembrarmo-nos disso.
Mas é, ainda e sempre, um livro infantil, e importa observá-lo como tal. E da perspetiva de uma história para ler com os mais novos, existem duas caraterísticas que se destacam (além da já referida mensagem, que é, por si só, uma belíssima qualidade). A primeira é a componente visual, cheia de cor e de ternura, que prende ao folhear de cada página. Há, aliás, algo de delicioso na expressividade destes camaleões. A segunda é a cadência do texto, com a rima a acrescentar-lhe ritmo e a dar um tom singular a uma história que, apesar da sua simplicidade (ou talvez por causa dela), é perfeita para ler em voz alta.
Todas as emoções são válidas e somos válidos tal como somos: é esta a mensagem deste livro, e é tão importante para os mais novos como para todas as outras pessoas. Vale, pois, a pena acompanhar o Camilo nesta pequena aventura. E crescer com ele... ou voltar por um bocadinho à infância.

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