quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Concerto para 8 Infantes e 1 Bastardo (Fernando Relvas)

Começa como um encontro casual entre conhecidos que já não se viam há uns anos, mas cedo se transforma numa grande confusão. Porquê? Porque Fred, um dos intervenientes, está metido em negócios duvidosos e Jaca, o outro envolvido, não consegue resistir à curiosidade e também a um certo espírito de entreajuda. O que começa por ser um encontro inofensivo rapidamente dá lugar a uma sucessão de ataques, intrigas e manobras de diversão, entre descobertas por vezes involuntárias e a perceção de que nem todos os mistérios terão resposta.
Composto por um núcleo relativamente reduzido de personagens, e por uma história relativamente breve, é na dimensão da intriga que se encontra um dos aspetos mais surpreendentes deste livro. Desde a droga ao tráfico de armas, passando pelo mundo das estrelas do rock, há muito à acontecer nesta história e uma teia de ligações surpreendentemente complexa. Tanto que é impossível não ficar com a sensação de que certos aspetos acabam por se explorados de forma demasiado concisa, ficando uma certa curiosidade insatisfeita relativa a alguns pontos do enredo.
Se o contexto acaba por ser relativamente sucinto, já aos cenários não falta singularidade, o que, associado a uma intrigante expressividade nos rostos - particularmente notável nos momentos mais... desconcertantes - torna toda a leitura visualmente marcante. Além disso, tendo em conta os cenários em que grande parte do enredo decorre, a predominância do escuro transporta-nos para um ambiente que evoca na perfeição a aura do policial e das histórias de espionagem.
E há ainda algo de estranhamente cativante na figura de Jaca, eterno aspirante a diplomata, mas sempre metido noutro tipo de... conversações. É uma personagem algo caricata, inevitavelmente enquadrada no seu tempo, mas diferenciada pelas escolhas que faz - e pela forma como a vida se intromete nessas escolhas.
Conciso na exploração de um enredo intrincado, mas sempre cativante na sua brevidade, deixa realmente alguma curiosidade insatisfeita, mas não deixa de contar uma bela aventura. E isso é mais do que suficiente para que valha a pena conhecer este peculiar concerto.

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