"Nasci quando os meus pais já não se amavam." É assim que começa a história de Adriana, uma criança que se sente deslocada no mundo real e que, por isso, divaga para as suas próprias fantasias numa tentativa de encontrar o seu lugar. A fantasia, contudo, depressa lhe conquista alguns problemas, passando a ser vista por muitos como uma menina "má". Mas tudo o que Adri procura, na verdade, é a essência da sua própria identidade, ainda que nem tudo sejam rosas no seu mundo.
Terno e inocente, mas ao mesmo tempo complexo e profundo, este livro mostra, em toda a sua glória, a arte da Ana María Matute. Sem renunciar à complexidade e à beleza da sua escrita, às reflexões muitas vezes necessárias, a autora dá-nos o ponto de vista ingénuo e, por vezes, distorcido da criança que era Adriana. E, numa viagem pelas memórias, pelas ligações emocionais que a criança estabeleceu, pela efémera magia do seu mundo... e também pela tragédia que sempre se esconde atrás dos sonhos, Paraíso Inabitado apresenta-nos um mundo muito pessoal, que estabelece desde cedo uma ligação emocional com o leitor, através das esperanças e desilusões da pequena protagonista.
O aspecto mais bem conseguido desta obra não poderá deixar de ser o equilíbrio que a autora estabelece entre narrativa, descrição e também poesia. Porque a forma como Adriana (e com ela o leitor) divaga entre o sonho e a realidade nunca deixa de ter algo de poético e de mágico, mesmo quando tudo parece estar esquecido no passado.
Fácil de ler e envolvente na história que nos transmite, este é um livro de imensa profundidade. E a sua história emotiva, a sua escrita soberba e a beleza quase inefável das suas personagens tornam Paraíso Inabitado numa leitura inesquecível. Muito bom.
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