Ritual (Mo Hayder)

Quando a mergulhadora Flea Marley é chamada para recolher das águas uma mão decepada, está longe de imaginar a história por detrás dessas circunstâncias. E quando o inspector Jack Caffery é designado como responsável por este caso, as sombras do passado irão relacionar-se de forma quase demasiado íntima com os acontecimentos do presente. Superstição, rituais e um estranho gosto pelo macabro são elementos fortemente presentes em mais um dos casos de Caffery.

Conheci esta autora quando, há já bastantes anos, li o seu "Os Pássaros da Morte". Neste livro, confirma-se a impressão com que tinha ficado: a autora conhece e explora até à exaustão os mais mórbidos recessos da mente humana, num ambiente constantemente negro, mas que, ainda assim, permite umas quantas surpresas.

O ritmo é um pouco lento, e o mistério parece desdobrar-se em segredos atrás de segredos, em grande parte porque o passado dos protagonistas desempenha um importante papel nesta história. Os fantasmas de Caffery parecem ganhar nova vida com a sua mudança para Bristol e os segredos de Flea no que diz respeito ao passado da sua família e do estranho Kaiser Nduka acabarão por intervir no desenrolar do caso principal. Ainda de referir os momentos que a autora dedica a revelar partes dos acontecimentos do ponto de vista da vítima. É nestes capítulos que o verdadeiro potencial dos elementos mórbidos neste livro se revela, e chega inclusive a contribuir para iludir o leitor quanto à verdadeira solução, esta bastante surpreendente.

Comparando com "Os Pássaros da Morte", este é um livro que talvez exerça um efeito de fascínio bastante menor, em parte devido ao foco no passado, que acaba por atrasar e arrastar os eventos principais. Ainda assim, a escrita envolvente de Mo Hayder, aliada às suas ambiências soturnas e à surpresa do final, tornam este livro uma leitura bastante agradável e interessante. Gostei.