Em tempos foram admirados como os heróicos defensores que eram em Spiral City. Mas o derradeiro combate teve consequências imprevistas. Agora, dez anos depois, estão presos numa vila da qual, inexplicavelmente, são os únicos a não conseguir sair. E, cada um com as suas peculiares origens, carregam partes de um passado que os assombra. Alguns resignaram-se àquele lugar. Outros querem, acima de tudo, escapar. E há algo em marcha, algo de novo, que talvez aponte para que as coisas estejam prestes a sofrer uma grande mudança.
Há algo de inesperadamente delicioso em ler uma história de super-heróis em que os super-heróis estão... bem, encalhados. Todos tiveram um passado áureo e travaram as suas grandes batalhas. Não é essa, contudo, a história principal e é algo de fascinante ver que as aventuras deste grupo não são de grandes combates (ou, pelo menos, são mais da memória dos grandes combates), mas sim da descoberta de uma vida nova num lugar que não percebem muito bem, mas de onde não podem sair.
Como o título indica, grande parte deste primeiro volume gira em torno das origens desta pequena família de super-heróis. A este respeito, há dois aspectos a destacar. Primeiro a diversidade, já que cada um deles vem de meios diferentes, move-se por razões diferentes e tem também poderes ou capacidades distintas. E depois a forma como estas diferenças convergem num equilíbrio eficaz, não só a nível de relações, já que a relação entre eles é tão próxima quanto atribulada (como uma verdadeira família, enfim), mas também na forma como estes contrastes se reflectem na própria arte. Há como que um choque de tonalidades entre o que se passa nas memórias - e é diferente para cada um deles - e o tom ligeiramente esbatido que parece evocar na perfeição a excessiva pacatez da vila.
Sendo este o primeiro volume, escusado será dizer que fica praticamente tudo em aberto. Mas é interessante notar que, mais do que qualquer curiosidade insatisfeita, a sensação que fica é a de um ponto de partida adequado (e cheio de acontecimentos relevantes) que deixa uma imensa vontade de continuar a seguir a série. Além disso, há ao longo do caminho vários momentos emotivos - mais do que os suficientes para garantir, logo à partida, uma proximidade emocional com estas tão peculiares personagens.
Intenso, viciante e surpreendentemente preciso no seu registo equilibrado entre a aventura e o horror, trata-se, pois, de um belíssimo primeiro volume e de um início de série mais do que promissor. Mal posso esperar para saber o que acontece a seguir.
Título: Black Hammer - Origens Secretas
Autores: Jeff Lemire, Dean Ormston e Dave Stewart
Origem: Recebido para crítica
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