quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

A Revolta dos Deuses, vol. 1 - O Dia da Tempestade (Afonso Azevedo)

Vivem-se tempos conturbados. O rei morreu inesperadamente em combate e o mesmo aconteceu ao seu herdeiro. Agora, há um problema para resolver. Os filhos sobreviventes do rei são gémeos e é preciso decidir qual deles governará. Um deles parece ser sensato e capaz. O outro é irascível e cruel. Mas, embora seja claro quem será a melhor escolha, o outro não está disposto a afastar-se simplesmente. E eis que se escolhem lados, forças fazem as suas jogadas e tudo se encaminha para uma resolução que trará novos perigos e intrigas. Ninguém está realmente seguro quando dois irmãos lutam pelo poder. Principalmente quando a morte do rei é mais suspeita do que inicialmente se julgava...
É difícil não partir para esta leitura sem reconhecer quase de imediato os paralelismos com As Crónicas de Gelo e Fogo. A começar desde logo pela estrutura, pois a história é contada do ponto de vista de múltiplas personagens, cada uma com um papel a desempenhar no tabuleiro da intriga e associada a uma casa antiga ou com laços a um passado distante. Há também personagens cujas circunstâncias recordam um pouco a série de George R. R. Martin. Ainda assim, esta familiaridade que inicialmente parece um pouco excessiva vai-se esbatendo aos poucos à medida que as personagens vão revelando a sua identidade própria. Nunca se desvanece por completo, até porque as bases de intrigas e traições com laivos de magia são comuns, mas a história acaba por encontrar o seu próprio rumo.
Outro aspecto que cedo se torna evidente é que a teia de intrigas é muito mais complexa do que inicialmente seria de esperar, o que se torna particularmente surpreendente tendo em conta os capítulos muito curtos do livro. Tudo acontece muito depressa. Tudo muda num instante. E se há momentos em que esta forma sintética de contar as coisas faz com que certos desenvolvimentos pareçam um pouco apressados, também é certo que este ritmo de constantes mudanças torna a leitura bastante viciante.
Sendo apenas o primeiro volume, escusado será dizer que ficam perguntas sem resposta. Fica tudo sem resposta, na verdade, pois os capítulos finais apresentam uma série de acontecimentos que tornam o futuro num absoluto mistério. Ainda assim, ao longo do caminho, ficam algumas certezas interessantes: a de que há personagens com espaço para crescer e outras que atingiram já o seu auge nos grandes momentos que protagonizaram neste primeiro volume; a de que há forças em jogo que ainda mal se revelaram; e a de que ninguém está realmente seguro nesta história. Tudo isto deixa uma grande vontade de saber o que acontece a seguir.
Pode não parecer uma história particularmente nova, mas não deixa, ainda assim, de ser estranhamente cativante. E, com os seus momentos intensos, a capacidade de surpreender e o muito potencial contido nas personagens, não deixa de ser um muito empolgante início de série, envolvente e bastante promissor. Um bom ponto de partida, em suma, e uma leitura muito agradável.

Autor: Afonso Azevedo
Origem: Recebido para crítica

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