Quando a empregada dos Bantry acorda os seus patrões com a notícia de que está um cadáver na biblioteca, o primeiro pensamento a ocorrer aos donos da casa é que a mulher deve estar louca. Mas é realmente verdade. Está mesmo um cadáver de biblioteca e pertence a uma jovem que nenhum dos moradores parece conhecer. Naturalmente, a polícia é chamada, mas, quando as poucas pistas são tão contraditórias, o raciocínio das autoridades parece não bastar. E é então que a senhora Bantry se lembra de chamar a sua amiga Jane Marple, uma senhora de aspecto inofensivo, mas com uma mente temível.
Sendo uma adaptação de um dos policiais de Agatha Christie, é inevitável partir para a leitura com a ideia de que a história será mais surpreendente para quem, como eu, não tiver ainda lido o romance original. Afinal, parte do que torna esses livros tão empolgantes é o mistério que se prolonga até à surpresa final. Neste caso, não tendo qualquer conhecimento prévio da história, essa impressão confirma-se, pois o que mais marca na leitura é precisamente a sucessão de possibilidades e suspeitas que vão abrindo caminho para o final inesperado.
Outro aspecto que parece ser característico dos livros de Agatha Christie é o raciocínio elaborado que leva à descoberta do criminoso. Assim, poder-se-á sentir uma apreensão inicial face aos inevitáveis monólogos da protagonista. Não há, porém, motivos para apreensão. Embora haja, de facto, diálogos extensos, tudo parece fluir num equilíbrio eficaz entre o texto e a arte, até porque, a contrapor às explicações mais longas, há o muito que se retira da imagem, da expressão e do movimento. Movimento no sentido de acção e também no sentido de movimentações da intriga, pois, sendo certo que não faltam suspeitos nem álibis, há uma teia de perguntas sem resposta para desvendar.
Mas, voltando à expressão, importa ainda destacar que todo este livro transborda de britishness, da atitude um tanto snobe com que os figurões da sociedade olham para as personagens mais humildes à própria forma de falar das personagens, e sem esquecer aspectos como a indumentária e o comportamento sempre muito digno e sereno - mesmo face aos momentos mais dramáticos - das personagens.
Tudo somado, fica a imagem de uma adaptação que vale por si mesma - sendo, possivelmente, até mais marcante para quem embarca na leitura sem conhecer as grandes revelações. Completa, empolgante e visualmente muito apelativa, principalmente a nível de desenvolvimento dos cenários, transporta perfeitamente para este novo formato a aura de mistério e de intriga que se sente ao ler um dos policiais de Agatha Christie. Que é, aliás, exactamente o que se pretende.
Autores: Dominique Ziegler e Olivier Dauger
Origem: Recebido para crítica
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