Tiago está prestes a pedir a sua amada em casamento quando, de um momento para o outro, a sua vida fica virada do avesso. Tudo começa com uma presença estranha, que reconhece como a mãe que morreu ao dá-lo à luz, e que vem anunciar-lhe que é o escolhido, o Eleito da Luz, e que, para perpetuar o poder do bem no mundo, terá de se afastar da sua amada, que foi visitada por forças das trevas, até ao dia em que conceberão o próximo Eleito. Mas não basta a distância. Tiago precisa de descobrir a sua verdadeira natureza, regressar às suas origens e encontrar o passado que há muito lhe apontava o destino. E, mesmo assim, as trevas são fortes. E a concepção do Eleito pode ter de seguir por outros caminhos.
É difícil falar sobre este livro sem o dividir em duas facetas bastante óbvias: conceito e concretização. Porquê? Porque é o desequilíbrio entre estas duas facetas que faz com que toda a leitura seja uma longa sucessão de sentimentos ambíguos. No conceito, não falta potencial, ideias cujo ponto de partida promete vários momentos intensos e até um muito promissor equilíbrio entre o mundo sobrenatural e as origens remotas do protagonista. A concretização é... bem, confusa.
O autor tem uma forma bastante peculiar de construir a sua história, com rasgos de poesia, informações em tom quase enciclopédico e laivos de introspecção tão oscilantes como a constante alternância entre passado a presente a quebrar o ritmo do enredo. E, quanto aos grandes acontecimentos, há os momentos realmente marcantes (como é o caso de um episódio específico protagonizado por um cão) e também os que ficam por contar ou que são descritos de forma apressada. E, entre Eleitos da luz e das trevas, fantasmas e mensageiros que se manifestam de forma mais ou menos óbvia e uma concepção predestinada que acaba por se multiplicar, tudo acaba por ser posto em dúvida, principalmente porque o final dá verdadeiras respostas a muito poucas perguntas.
E depois há o protagonista, cujo percurso se vai tornando também cada vez mais ambíguo. No início, e apesar da estranheza das circunstâncias, é fácil compreender a relutância e a dúvida de uma personagem que, ante a concretização iminente do seu amor, é forçada a afastar-se para o bem de todos. Mas, à medida que o enredo evolui, essa empatia vai-se esbatendo, não só pelas escolhas duvidosas do protagonista (que, diga-se, não é tão luminoso quanto seria de esperar) como pela facilidade com que deixa partes da sua vida para trás. Facilidade que é também um pouco estranha na forma como as outras personagens aceitam o improvável.
A imagem que fica é, portanto, a de uma concretização confusa de uma ideia que tinha bastante potencial. Apressada e ambígua, embora com alguns momentos bem conseguidos, podia ter sido uma história memorável... mas fica-se pelo meramente curioso.
Título: O Eleito da Luz
Autor: Marinho da Rocha
Origem: Recebido para crítica
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