quinta-feira, 24 de junho de 2010

Laços de Sangue (Pamela Freeman)

Eles são os Viajantes. São o que resta do povo antigo, desprezados e marginalizados na vastidão dos Onze domínios. Ash está a ser treinado para desempenhar as funções de segurança, uma vez que Doronit foi a única a aceitar como aprendiz um membro da sua raça. Bramble vê-se obrigada a deixar o domínio onde viveu depois de ter causado a morte de um dos homens do senhor da guerra. Saker planeia, longe dos olhos de todos, a vingança para o seu povo vencido. Mas a Estrada é longa e o destino pode não corresponder aos planos de cada um deles.
Com uma escrita cuidadosa e bastante detalhada, particularmente no que respeita à descrição de cenários, este é um livro que evolui a um ritmo lento. Os caminhos de Saker, Bramble e Ash são apenas os elementos principais de uma teia onde múltiplas histórias se cruzam de forma mais ou menos intensa para criar um enredo complexo e cheio de mistérios.
Neste primeiro volume, as várias histórias que compõem a história raramente se cruzam e os elos existentes entre os diversos personagens são, por vezes, bastante ténues, surgindo como pouco mais que um nome familiar. Isto resulta numa necessária oscilação entre histórias e ambientes diferentes, o que, aliado ao forte desenvolvimentos dos elementos descritivos, faz com que o ritmo dos acontecimentos seja relativamente lento, apostando no detalhe e não num passo compulsivo. Ainda assim, a partir do momento em que se cria com os protagonistas uma familiaridade, é possível entrar por completo na história e são vários os momentos marcantes que percorrem as aventuras destes Viajantes.
Uma nota muito positiva para a forma como os deuses e os fantasmas nos são apresentados. Os deuses como presenças quase palpáveis, que surgem e se manifestam nos momentos adequados. E os fantasmas, com toda a teoria de morte e renascimento associada a esta abordagem, no papel que desempenham ao longo de toda a história e que promete ser ainda mais relevante nos acontecimentos que se seguirão. E ainda, também, uma referência para o final intrigante em que a ligação entre todas as histórias apresentadas neste livro se torna mais presente, semeando na mente do leitor uma inegável curiosidade quanto ao que virá depois.
Não se pode dizer que seja uma obra de leitura compulsiva. Ainda assim, com várias personagens interessantes e bem desenvolvidas, uma capacidade de descrição muito bem explorada e várias situações marcantes e que deixam antever acontecimentos ainda maiores, este é um livro que compensa plenamente a dispersão inicial das várias histórias. Complexo, mas cativante. Muito bom.

Sem comentários:

Enviar um comentário