terça-feira, 22 de maio de 2012

Divergente (Veronica Roth)

Cinco facções que se definem pela virtude que mais valorizam são a base de um sistema criado com o objectivo de manter a paz e a harmonia entre a população. Mas as coisas não são tão pacíficas como parecem... Beatrice Prior cresceu na facção dos Abnegados, mas a sensação de não pertencer verdadeiramente entre eles levou-a a, chegada a cerimónia de Escolha, deixar para trás a família e o mundo conhecido e a juntar-se aos Intrépidos. O problema é que nem todos os iniciados poderão juntar-se a essa facção como membros efectivos, o que faz da iniciação um processo duro e competitivo. Principalmente para alguém que, como Tris, tem um segredo perigoso a esconder...
Contada na primeira pessoa por uma protagonista forte e carismática, mas que cria empatia também pelas suas vulnerabilidades, esta é uma história que começa por cativar pela perspectiva mais pessoal, centrando-se, no início, na história de Tris e do seu percurso através da iniciação, mas que cresce em complexidade quando os problemas e os segredos do sistema criam no enredo uma série de circunstâncias que vão abalar os rumos da história de uma perspectiva mais global. A história de Tris é, em grande medida, o foco central da narrativa, mas completa-se com os segredos e as intrigas das diferentes facções, evoluindo no sentido de uma fase final particularmente intensa que culmina numa conclusão particularmente poderosa.
Tris é uma personagem cativante tanto pelas suas qualidades, como pelos defeitos: o medo e a coragem, o altruísmo e o espírito de sobrevivência, as inseguranças e a capacidade de resistência contribuem em igual medida para definir uma personalidade marcante e carismática. Mas também entre os que a rodeiam (e nos segredos que guardam) há características interessantes a servir de base para bons momentos, quer de conflito, quer de empatia. Aqui, destacam-se, como não podia deixar de ser, as mudanças na interacção entre Al e Tris, mas, principalmente, a forma como a personalidade de Quatro complementa a de Tris, criando, com os seus diferentes papéis nos Intrépidos e a evolução gradual que lhes define a relação, um interessante equilíbrio de diferenças e pontos em comum.
Importa ainda referir que, ao longo de todo o enredo, a conjugação de acção e emoção nas medidas certas, bem como a contextualização gradual que permite que a história se expanda da iniciação de Tris para algo mais abrangente, toca também uma série de elementos interessantes. Há, nesta história, muito mais para lá do romance (que é, aliás, relativamente secundário). As diferentes facções e as relativas fidelidades a elas associadas servem de base para reflectir sobre os valores que as definem, mas também sobre as diferenças entre a utopia que as motivou e a sua concretização. As interacções de Tris com a família e com os amigos, e também as mudanças operadas sobre estes amigos, reflectem circunstâncias em que o medo ou a sensação de não pertencer podem abalar prioridades que se julgavam seguras. As possíveis marcas de um passado traumático e as escolhas tomadas em consequência dessas marcas estão bem representadas na história de Quatro. E a fase final da história representa na perfeição a forma como princípios e interesses acabam sempre por entrar em colisão.
Com uma escrita envolvente e de ritmo viciante, um sistema com muito de interessante e ainda com muito mais para explorar e, principalmente, boas personagens e uma história equilibrada a nível de acção e emoção, Divergente abre da melhor forma uma série que promete ter ainda muito de interessante para descobrir. Muito bom.

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