domingo, 7 de setembro de 2014

Não Digas Nada (Mary Kubica)

Aos olhos do pai, Mia Dennett sempre foi uma desilusão, por não querer seguir os seus passos. Talvez tenha sido por isso que Mia escolheu uma carreira completamente diferente, como professora de artes visuais. Mas tudo muda na noite em que Mia se cruza com um estranho, que lhe parece ser uma pessoa simpática, mas que foi, na verdade, contratado para a raptar de forma a que possam extorquir um resgate ao seu pai. A partir daí, todos os planos se desfazem. Para Mia, que se vê no meio do nada à mercê de um estranho, mas também para quem o contratou. É que Colin não está disposto a entregar Mia. E a sua mudança de planos irá pôr quase tudo em causa.
Narrado na primeira pessoa, mas por várias personagens, e oscilando entre diferentes pontos no tempo, este é um livro em que o primeiro aspecto a surpreender é a forma como a história é contada. Mas essa é apenas a primeira de várias surpresas a surgir ao longo do enredo. Tantas que se torna difícil referir certos aspectos sem desvendar partes do mistério.
Mas vamos por partes. Ao oscilar entre diferentes fases dos acontecimentos, a autora dá, desde logo, algumas pistas para o que poderá ter acontecido. Isto cria alguma expectativa, já que introduz algumas certezas. Mas nem sempre os sinais são tão claros como parecem e, ao condicionar a percepção do que terá acontecido, cria-se um maior impacto para aquelas revelações que são exactamente o que menos se esperava. Além disso, a perspectiva das várias personagens permite encarar a situação de diferentes pontos de vista, o que acaba por tornar mais claros certos aspectos, mas também por manter oculto aquilo que a autora só quer revelar mais tarde.
Se o rapto de Mia é o centro de toda a narrativa, e é-o, de facto, há, ainda assim, outros aspectos a complementar a história. Primeiro, a vida familiar dos Dennett, com tudo o que nela há de disfuncional, cria empatias e ódios de estimação, ao mesmo tempo que fundamenta certas escolhas das personagens ao longo do enredo. Mas também a história do próprio Colin, com a influência que tem nas suas escolhas, torna mais fácil compreender a sua posição na história. E, no centro de tudo, a evolução das interacções entre Colin e Mia, pautadas por comportamentos de violência e de redenção, numa relação em que o conceito de síndrome de Estocolmo se contrapõe à possibilidade de um verdadeiro afecto, para, no fim, a verdade surgir como ainda uma nova surpresa.
Tudo isto, associado à fluidez da escrita, contribui para que a leitura se torne viciante. Mas, entre a tensão perceptível ao longo de toda a história e o grande impacto emocional de certos momentos, há ainda uma última surpresa, capaz de pôr muito em causa e de dar a tudo uma perspectiva diferente. No fim de tudo, sobressaem tanto os pequenos momentos como as grandes revelações. Mas, ainda assim, é o final que muda tudo.
Surpreendente será, pois, a palavra ideal para definir este livro, cativante desde as primeiras páginas, viciante até ao fim e cheio de surpresas ao longo de todo o percurso. Intenso, envolvente e muito, muito bom.

3 comentários:

  1. Tentei ler este mas não consegui, não e o meu genero, ainda bem que gostaste! E já agora, gosto da mudança do layout e do novo banner. :)

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  2. Fiquei intrigada com este livro. Vou tentar lê-lo se o encontrar numa biblioteca. A propósito, muito obrigada por teres mudado a cor do fundo. Espero que seja do teu agrado tanto como é do nosso :)
    Beijinho

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    1. Ainda me estou a habituar à mudança de visual, mas acho que estava na altura. E gosto do resultado. :)

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