sábado, 16 de maio de 2015

O Mistério do Quadro de Bellini (Jason Goodwin)

Convocado para uma audiência com o jovem sultão, Yashim, o detective eunuco, recebe uma missão delicada. Deverá viajar até Veneza, e adquirir o quadro de Bellini que retrata Mehmed, o Conquistador. Mas a missão é mais delicada do que parece. Uma importante figura do governo faz saber que vê com maus olhos a viagem de Yashim a Veneza e que lhe seria conveniente ignorar a ordem do sultão. Entre ordens contraditórias, Yashim encontra no seu amigo, o conde Palewski, a solução dos seus problemas e alguém para enviar no seu lugar. Mas o que o espera em Veneza é muito mais do que a simples aquisição de um quadro. Há um assassino à solta e todas as pistas convergem para o quadro de Bellini e a sua possível proprietária. Resolver o mistério será difícil. E também perigoso...
Tal como nos livros anteriores, o grande ponto forte de O Mistério do Quadro de Bellini é a capacidade do autor de desenvolver cenários, hábitos e informações de contexto de forma hábil e esclarecedora. Grande parte da acção deste livro acontece em Veneza, o que, além de dar ao autor um novo cenário a desenvolver, permite a criação de paralelismos e similaridades entre as duas principais cidades das personagens. Assim, entre Veneza e Istambul, o autor realça contrastes, põe em evidência às semelhanças e apresenta todo um conjunto de descrições e informações que tornam o ambiente particularmente envolvente. E isto, por si só, é mais que suficiente para transportar o leitor para dentro da história.
Quanto às personagens, não há, à partida, nada de muito novo na forma como são caracterizadas. Mais uma vez, e em parte devido à forte componente descritiva, mas também à natureza essencialmente racional de Yashim, os momentos mais emotivos ou de maior empatia são apenas pontuais, ainda que haja um ou outro que se destaca pela intensidade. É o mistério que domina e, por isso, são as pistas para o resolver o cerne do enredo. O resultado é uma história que, por vezes, se torna demasiado distante, mas que, na sua curiosa mistura de intriga e mistério, com pontuais momentos de emoção e um muito agradável equilíbrio entre grandes episódios de acção e laivos de um quotidiano peculiar, nunca deixa de cativar.
E, ainda sobre o mistério e as respostas que para ele são dadas, importa realçar o facto de, ainda que nem tudo seja surpreendente, as respostas essenciais o serem. A verdade na base de todos os acontecimentos surge apenas nos últimos capítulos - e o que ela revela tem, independentemente de todas as pistas, muito de inesperado. Também isso contribui para que, apesar dos momentos mais distantes e de algumas situações de estranheza, o final acabe por surpreender pela sua especial intensidade.
Tudo isto resulta numa história cativante, ainda que de ritmo pausado, e em que o desenvolvimento das personagens e do mistério se conjuga com uma detalhada apresentação do contexto e do cenário, num enredo que, por vezes distante, mas sempre interessante, consegue surpreender em todos os momentos certos. Agradável e envolvente, uma boa leitura.

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