sábado, 13 de outubro de 2018

Uma Coisa Absolutamente Incrível (Hank Green)

April May está a caminho de casa depois de um longo dia de trabalho quando eis que, do nada, se depara com uma enorme escultura na rua. De início, April pensa que deve ser uma espécie de obra de arte, uma instalação elaborada, mas, ainda que a sua primeira reacção seja seguir em frente, decide chamar o seu melhor amigo. Juntos fazem um vídeo sobre a estátua a que April deu o nome de Carl. Mas o que devia ser um vídeo interessante ganha uma nova dimensão quando se descobre que o Carl é apenas um de sessenta e quatro espalhados por todo o mundo. E mais: que tem características impossíveis a qualquer material terrestre. April vê-se assim no papel de primeira a estabelecer contacto com uma possível espécie alienígena. E, de repente, ascende à fama mundial... algo que talvez lhe agrade mais do que devia.
Uma das primeiras coisas a chamar a atenção nesta história - além, claro, da ideia de estátuas gigantes a aparecer de repente em todo o lado - é a forma como, embora contando a história pela voz da sua protagonista, o autor nunca cai na tentação de a aperfeiçoar demasiado (nem mesmo aos seus próprios olhos). Desde cedo se torna evidente que, no momento em que conta a história, April May está bem consciente das suas fragilidades e defeitos e isso torna tudo muito mais interessante, não só porque permite emoções mais intensas (seja de empatia ou de irritação), mas principalmente porque se ajusta na perfeição ao papel de April de "representante" da humanidade.
Importa também destacar que esta está muito longe de ser apenas uma história de alienígenas - apesar de ter como ponto fulcral uma manifestação de... bem, alienígenas. É uma história sobre a fama e o seu lado mais sombrio, sobre as discussões e ódios no tempo das redes sociais, sobre o crescimento das personagens num mundo em constante mudança e, sim, também sobre a forma como a humanidade poderia lidar com uma manifestação extraterrestre. Tudo isto mais em actos do que em palavras, e por isso muito mais visível - embora April tenha também um ou outro discurso bastante notável.
Voltemos aos extraterrestres - e ao desenvolvimento das personagens - para realçar outro aspecto. A história dos Carls começa como um enigma e termina como tal. Aliás, tudo no final aponta para a possibilidade de uma sequela. Mas há todo um mundo de desenvolvimento ao longo do caminho: as estátuas, o Sonho, as mensagens em código - tudo aponta para algo muito complexo que apenas começou a manifestar-se. E, do outro lado, do lado da humanidade, há uma outra base de complexidades: os ódios, os medos, as intrigas - e a capacidade de trabalhar em conjunto para resolver um mistério. Tudo num cenário que é, ao mesmo tempo, global (fruto da capacidade mobilizadora de April) e pessoal (influindo nas suas relações familiares, amizades e romances). 
E depois há a conclusão, que é a convergência de todas estas facetas num final explosivo. Ficam perguntas em aberto, claro, e a muito clara sensação de que a história continuará. Mas fica também a ideia de que uma fase se concluiu - para o mundo, para April e para os Carls. O que vier a seguir será diferente. Mas, a julgar pelo impacto deste final, será certamente muito bom.
Com uma voz única, um enredo surpreendente e um belíssimo equilíbrio entre humor e emoção, trata-se, pois, de uma história de fama e de extraterrestres, mas em que nenhum deles é apenas um elemento estático. A história de April, em suma, e da sua notoriedade - num mundo capaz do melhor e do pior.

Autor: Hank Green
Origem: Recebido para crítica

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