sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O Pequeno Livro da Vida (Rumi)

Alma, coração e espírito enquanto jardins povoados pelo Amado. Jardins onde o fogo é uma rosa, onde amor é dor, dor é amor, e o Amado é a divindade. São estes os estranhos meandros que, ao longo deste (não tão) pequeno livro da vida, se vão desenhando, numa sucessão de pensamento e poesia que, enganadoramente simples, contém profundidades insuspeitas. E, sim, pode ser pequeno no tamanho... mas são vastas as dimensões que contém no seu interior.
Um dos termos que geralmente se usam para descrever uma grande obra é a palavra intemporal, no sentido em que as suas qualidades são capazes de perdurar através dos séculos. Bem, este livro tem muito de intemporal, não só pelo simples facto de ter efectivamente perdurado ao longo dos séculos, mas também por manter toda a actualidade e relevância. É um livro espiritual, no sentido em que se volta sobretudo para o interior e para o divino, mas é também um livro feito de imagens. É possível, ao ler cada um dos seus textos, captar uma imagem visual de um cenário, que, não sendo propriamente deste mundo, se torna, ainda assim, algo de tangível. No fundo, é esta a magia deste livro: a forma como traça cenários precisos ao mesmo tempo que projecta conceitos mais abstractos.
Sendo cada escrito um todo em si mesmo, é também interessante notar como o conjunto forma um todo mais vasto. A divisão em três "jardins" agrupa os diferentes textos de acordo com os seus pontos de convergência, mas todos pertencem a uma mesma unidade. Além disso, esta visão das três partes da vida é suficientemente ambígua - e, sobretudo, suficientemente vasta - para permitir diferentes pontos de identificação. A fé é uma forte presença, mas não uma fé de normas estritas e específicas e sim uma crença espiritual. É, além disso, uma fé complementada por valores universais, o que significa que nenhum tipo de crença será obstáculo a captar a forte mensagem - de altruísmo, de dedicação, de amor - contida neste livro.
E importa ainda olhar para a forma e para a aparente simplicidade que habita todos estes textos. Muito breves, mas de uma fluidez fascinante, resumem em poucas linhas a essência do que têm para dizer, projectado sobre imagens surpreendentes e vastas, fáceis de assimilar e, ao mesmo tempo, belíssimas.
Fica, em suma, a mais marcante das imagens: a de um pequeno livro que, é no fundo, vastíssimo, belo na simplicidade das palavras e na abrangência das suas mensagens. Intemporal? Sem dúvida alguma. E memorável também.

Autor: Rumi
Origem: Recebido para crítica

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