sexta-feira, 20 de março de 2020

Os Dias são Assim... (Ana Oliveira e Isabel Pelaez)

Os dias são assim. Feitos de amores que nascem e se desfazem, deixando para trás apenas porquês sem resposta. De gestos de compaixão ante os que todos os outros consideram invisíveis. De afectos que desabrocham nos pontos onde se menos se espera e de traumas passados que se revelam no mais simples acto de cuidado. São assim, de memórias, de histórias para contar. Histórias como as que habitam este pequeno livro.
Um dos principais aspectos a sobressair desta leitura é o delicado equilíbrio entre os vários elementos que o compõem. Cada história é um todo independente, ao ponto de quase justificar uma análise individual, mas, à medida que a leitura avança, reconhecem-se inesperados pontos em comum. Há como que uma nostalgia, uma visão introspectiva das vidas que povoam estes contos, que faz com que o todo seja maior do que a soma das partes. Além disso, as ilustrações que acompanham cada conto reforçam também esta sensação de unidade, o que faz com que, ainda que cada uma destas vidas seja única em si mesma, elas pertençam realmente juntas.
Outro elemento a sobressair é a escrita, que, na sua brevidade e simplicidade, se mostra particularmente eficaz em transmitir o essencial. É certo que, sendo histórias breves, fica alguma curiosidade insatisfeita relativamente a algumas das personagens, mas a verdade é que nada falta no percurso essencial. O que cada conto mostra é uma parte de uma vida, com toda a vastidão de emoções associadas a esse momento, e essa parte do percurso tem realmente todo o impacto de que precisa. O resto fica à imaginação do leitor.
Importa ainda regressar uma vez mais ao aspecto visual, pois as ilustrações, nos seus tons de cinzento, conseguem, ainda assim, reforçar em muito a vida da história. São, tal como o texto, relativamente simples, mas ajustam-se na perfeição à fluidez das palavras. E o resultado é um livro mais bonito, não só no conteúdo das histórias, mas também na força que as ilustrações vêm acrescentar.
Breve, simples e muito emotivo, trata-se, pois, de um conjunto de histórias que é mais do que a vida independente das suas personagens. Um retrato da vida nas suas mais simples - e tocantes - facetas, feito de forma muito simples, mas também muito cativante. Os dias são assim... simples, mas escondendo complexidades insuspeitas. As do coração, sobretudo.

Autoras: Ana Oliveira e Isabel Pelaez
Origem: Recebido para crítica

1 comentário:

  1. Muito obrigada pela crítica tão construtiva. Acabei de ler e fou uma fantástica surpresa.

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