A chegada de um conde polaco a Paris começa por despertar curiosidade na sociedade, em parte devido ao seu aspeto misterioso e estranho. Mas quando se espalha a notícia de que o homem tem um interesse particular por um pintor que morreu prematuramente e cujos quadros ficaram nas mãos de um homem sem escrúpulos, a curiosidade torna-se apreensão. E o conde Skarbek não tarda a justificar esses receios. Movendo cordelinhos no sítio certo, desencadeia um processo contra o seu arqui-inimigo. Mas o processo que devia ser a revelação da verdade - e a apoteose de uma vingança magistral - é apenas o início do desfazer de uma longa e complexa teia de mentiras.
A ideia de um conde misterioso com um ajuste de contas a executar devido a injustiças passadas soa vagamente familiar - pelo menos para quem conhecer a obra de Alexandre Dumas. E, antes de mais, importa realçar que esse paralelismo é premeditado. Como bem demonstram certos desenvolvimentos da fase final que não convém aqui descrever. Mas este paralelismo merece destaque. Porquê? Porque quem gostou do outro conde, também vai certamente apreciar a história deste.
Mas olhemos então para a história de Skarbek. E, neste livro, é inevitável destacar dois aspetos, um na arte e outro na história. Na arte, o que sobressai acima de tudo é o equilíbrio perfeito entre luz e sombra. Há cenários vastos e visões de pormenor, há confrontos de multidões, grandes duelos e momentos de uma vaga introspeção, além, claro, das repercussões de um contexto histórico cuidadosamente refletido nas imagens. Mas, em tudo isto, há contrastes poderosos, traços que se destacam da sombra e luzes que tudo invadem, equilíbrios entre o visto e o insinuado. E isso torna tudo - os cenários, as expressões, as figuras - particularmente marcante.
Quanto à história, sobressai obviamente a sucessão de surpresas. Num enredo que gira todo ele em torno de vinganças e de regressos imprevistos, e de uma mentira tornada verdade e que é imperioso desmentir, é impressionante a quantidade de vezes que este livro nos leva a pensar que já sabemos tudo para depois nos revelar uma nova possibilidade. E sim, isto acontece mesmo até ao final, uma conclusão intensa e suficientemente ambígua (do ponto de visto emocional, não no enredo) para deixar como que um sentimento de pertença para trás.
Visualmente brilhante e com uma história surpreendente em todas as suas facetas, este é um livro que fascina desde a primeira à última página: pelos diálogos, pela visão e sobretudo pela intensidade da história. E, para quem gostou de conhecer um tal conde de Monte Cristo... bem, será certamente recomendável conhecer também o conde Skarbek.
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