Um fórum. Alguns temas. Um projecto. Assim surgiu esta antologia que reúne oito contos, diferentes em géneros, temas e estilos narrativos, assinados por autores dos quais não conhecia a escrita, resultando esta leitura numa surpresa bastante agradável.
O primeiro conto, O Fim do Sonho, é da autoria de Zé Chove. Poética, com algo de divagação, trata essencialmente de uma travessia através de momentos e recordações. Ainda que possa ser algo confuso nalguns momentos, principalmente devido à multiplicidade de referências evocadas, cativa principalmente pela harmonia das palavras e pela força da conclusão.
Rosa sobre Fundo Branco, de Joana Augusto, apresenta um caminho em direcção ao fim, reflectido em impressões, mas principalmente em emoções intensas. Belo e cativante com a sua algo desoladora aura de certeza e resignação, um conto emotivo e que fica na memória.
Znuff, de Pedro Pedroso, foge completamente ao tom dos contos anteriores. Chocante e perturbador, este conto apresenta a gravação de um filme de "pornografia alternativa". Com bastante de arrepiante e algumas reviravoltas curiosas, um texto que perturba também pela forma como, apesar das situações mais repulsivas, a vontade de continuar a ler continua a ser mais forte.
Segue-se Carne da Minha Carne, Sangue do Meu Sangue, de Sofia Nobre, com uma história de amor... diferente. Intenso e interessante, principalmente pelo mistério criado em redor das razões que justificam cada acção e da verdadeira natureza da mulher. Uma leitura intrigante, ainda que deixe a sensação de terminar demasiado depressa.
Prisão de Gelo, de Adeselna Davies, é, para mim, o conto mais forte da antologia. Uma impressionante história de resignação, mas também de persistência, num mundo onde amar de forma oposta ao ditado pelas convenções sociais é um crime intolerável. Marcante e perturbador na crescente força das revelações por detrás da Prisão de Gelo. Um conto que impressiona e apela à reflexão.
Em A Cidade, de R. B. Nortor, o protagonista é um homem de passagem, com as suas divagações e impressões da Cidade e de si próprio. Interessante, principalmente pelo contraste entre a caracterização da Cidade enquanto local e enquanto influência sobre o protagonista, mas também pela componente introspectiva associada a esse mesmo homem.
Jerusalém, de Marcelina Leandro, tem como pontos centrais um departamento de investigação capaz de recuar no tempo e uma recordação... especial... da tomada de Jerusalém. Envolvente, com uma escrita fluída e descrições agradáveis, deixa, no final, a vontade de saber mais sobre estes investigadores.
Por último, Hölestern, de Joel Puga, tem como ponto de partida um naufrágio, que, seguido de uma fuga desesperada, acaba por ser o caminho em direcção ao destino do protagonista. Mais um conto envolvente, com algumas situações envolventes e uma escrita agradável.
O balanço final desta leitura é, evidentemente, positivo. Contos houve que marcaram mais que outros, mas não houve nenhum de que não tivesse gostado. Fica, por isso, a vontade de conhecer mais do trabalho destes autores e a recomendação deste livro cheio de interessantes histórias a descobrir.
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