Analía tinha 27 anos quando o seu mundo mudou, ao descobrir que não só os seus pais não eram, verdadeiramente, as pessoas que a criaram, mas também a sua identidade enquanto uma de muitas crianças retiradas aos pais durante os anos da ditadura. Esta é a história de Victoria, contada pela sua própria voz.
Não é uma obra particularmente complexa ou poética esta história. Não é esse o objectivo. O que este livro apresenta é o testemunho de uma vida em colapso, de uma identidade que se descobre ser inexistente e de todo um percurso de volta ao seu verdadeiro ser. Victoria apresenta sem floreados os passos da sua descoberta, desde o tempo em que julgava ser apenas Analía, mas em que dava por si já a percorrer o caminho dos mesmos ideais que a sua família desconhecia, até à recuperação do poderoso impacto que terá sido a descoberta da verdade, a aceitação de quem seria e com quem vivera e a forma como esse conhecimento viria a influenciar tanto a sua vida privada como a sua imagem pública.
É uma caminhada dura a da sua história e a autora apresenta-a de forma directa, sem rodeios e sem floreados desnecessários. Os acontecimentos são claros o suficiente e, no percurso pessoal de Analía, que se torna Victoria, transparece uma imagem precisa dos crimes cometidos pelo regime ditatorial, bem como das consequências que este teve tanto para os inocentes envolvidos como para os que conviviam, sem saber, com os culpados dos piores actos.
Uma leitura cativante, chocante por vezes, poderosa pela realidade espelhada nas palavras desta história. E uma imagem também, da força de viver perante o colapso do que seriam as certezas de toda uma vida, na coragem dessa jovem mulher de verdadeiro nome Victoria.
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