Um príncipe do deserto, irmão do soberano de um reino que ninguém sabe exactamente onde fica. Um plano ambicioso: o de conquistar uma pátria para o povo de Israel. Uma missão: a de encontrar entre a cristandade os meios para concretizar o seu grandioso destino. E uma obsessão na mente dos povos, uma certeza desencadeada por uma simples conversão e por um fanatismo que se torna na arma da fatalidade. Porque David Reubeni pretende ser apenas a mão condutora de uma imensa missão - mas o seu povo necessita de um Messias para seguir.
É a fatalidade, essa força inexplicável que parece viver da contrariedade ante os planos dos homens, a grande essência de toda esta história. David surge como uma figura imponente, poderosa apesar das suas origens em grande parte desconhecidas. Num cenário onde os judeus são desprezados, quando não perseguidos, a majestade de David, a liberdade com que caminha entre as gentes, alcançando até os poderosos, e a atenção que lhe é dedicada por parte de figuras tão relevantes como a do próprio Clemente VII formam um nítido contraste entre sonho e realidade, reforçando essa convicção do possível, mesmo que para lá da imaginação. E é impressionante a forma como o autor conduz, ao longo de todo o livro, os caminhos de David, entre recepções mais que calorosas e conspirações ocultas, entre claros indícios de que o sonho é realizável e barreiras inesperadas capazes de derrubar o mais forte dos seres.
Mais que das viagens e das dificuldades de David, é do seu sonho que vive esta história, da força capaz de criar paixões impossíveis (e aqui Dina é o mais claro dos exemplos), ódios viscerais, lealdades inquebráveis e até uma súbita iluminação messiânica que acaba por ser, ao mesmo tempo, a grande força e a suprema ameaça para os planos do príncipe de Chabor. Pois, tão relevante como a personalidade forte e serena de David, há na loucura profética e fanática de Chlomo Mohlko uma evidente caminhada até à condenação e à frustração de um plano que, por várias vezes, parece quase demasiado próximo.
Escrito de forma envolvente, sem grandes teorias ou descrições desnecessárias, O Messias marca principalmente pela intensidade do sonho, por oposição à sua fragilidade. Pela oscilação entre triunfo e tragédia. Mas, principalmente, pela força de uma vontade humana, mesmo quando colocada no seu ponto mais vulnerável. Intenso, profundo e fascinante. Muito bom.
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