O terceiro segredo de Fátima parece ter-se convertido numa obsessão para o papa Clemente XV. Mas ninguém compreende porquê. Apenas os que lhe são mais próximos sabem, de facto, dessa necessidade visceral de investigar e, por isso, Colin Michener, o seu secretário, será os olhos e as mãos para aquele que é, no fundo, um homem preocupado e atormentado também com os seus próprios segredos. Mas há ambição entre os príncipes da Igreja e o cardeal Valendrea, que sabe mais do que deveria sobre aquilo que o papa tenta descobrir, recorrerá a todos os meios necessários para impedir que a verdade seja revelada. E, de preferência, para que seja ele o sucessor do envelhecido Clemente XV.
Uma história envolvente, marcada pelos elementos característicos deste género de livro, mas com algumas situações inesperadas, aliadas a personagens bastante mais complexas do que seriam de esperar. É esta a base deste romance e a força que o torna numa leitura simplesmente viciante. Capítulos curtos, alternando entre os sucessivos progressos de Colin, os planos e obsessões de Valendrea e a inevitável divisão de Katerina entre o que sente e aquilo que foi chamada a fazer dão a todo o enredo um ritmo intenso, que mantém constante a vontade de saber mais. E se os elementos de maior acção e as surpresas que vão surgindo pelo percurso servem em grande parte para manter a curiosidade, há também algo de mais profundo que torna este livro mais que apenas mais um thriller sobre religião.
Primeiro, a ambiguidade de sentimentos de Colin e Katerina. Colin é um padre (e, como tal, obrigado ao celibato), mas viveu com Kate uma relação e o seu reaparecimento virá provar-lhe que os seus sentimentos não desapareceram. Esta situação (assim como outra revelação numa fase posterior do livro) servem de base a uma abordagem bastante precisa à questão do celibato. Por outro lado (e aqui a revelação do "segredo" é bastante conveniente neste aspecto) a ideia de que muitos dos supostos dogmas religiosos poderiam ser, afinal, recusados por uma vontade superior, propicia a uma certa reflexão sobre temas tão polémicos como o aborto e o sacerdócio exercido por mulheres.
Há ainda mais um elemento que torna a leitura constantemente cativante e este é, como não podia deixar de ser, o protagonista. Mas que pelas suas aventuras e descobertas, é nos conflitos interiores de Colin, na firmeza, apesar de tudo, dos seus melhores princípios e na lealdade segura perante o seu protector que se vislumbra a força do seu carácter e é também esse aspecto a tornar Colin Michener numa personagem tão cativante e capaz de despertar empatia.
Cativante, com um mistério intrigante, uma interessante abordagem às diferentes profecias e personagens com vidas e personalidades mais vastas que a simples ligação da sua presença nos acontecimentos que marcam todo o enredo. Intensa e viciante, uma boa leitura.
Mais um livro de Sreve Berry para a prateleira dos "A Ler". Obrigada pela dica!
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