De solidão e de amor, mas principalmente daquela forma de lealdade que só os que deixaram tudo o resto podem dar, esta é a história de um sem abrigo, de um homem que, por razões que só ele conhece, quis esquecer toda a vida passada e que vagueia, agora, nas ruas do mundo, tendo como única companhia o seu cão, o seu muito amado Lobito. Um retrato de dificuldades, da visão de tantos excluídos para a sociedade e da opinião que essa sociedade tem deles, mas, acima de tudo, um retrato de carinho, mesmo por entre a tristeza.
É esse tom de tristeza e de perda - mesmo que de uma perda aceite e assimilada - que mais marca ao longo desta leitura. Contada pela voz do seu protagonista, esta história, que é, afinal, o conjunto das pequenas e grandes experiências de uma vida vivida um dia de cada vez, marca pela serenidade melancólica com que cada dia, cada momento... cada eternidade nos é contada. Do homem que conta a sua história, vêem-se apenas laivos do passado. São os dias na rua o que interessa e é o abandono desses dias desolados que marca - tanto pelas suas difíceis interacções com os que vêm "do outro lado" (do lado onde não há dificuldades), como na simples, mas absoluta devoção a um único companheiro que não julga, que não abandona, que está sempre lá.
Há, portanto, um padrão que se repete. Muitos dias são parecidos, quase iguais, e isto nota-se na forma como o autor constrói esta história. Há momentos em que a mesma experiência, ou uma similar, parece surgir mais uma vez, evocando ainda e sempre a mesma tristeza. Momentos como este faz com que a leitura se torne algo mais lenta, já que não há grandes surpresas a mudar o caminho do enredo. Por outro lado, é essa mesma familiaridade a conferir realismo à história. Os dias iguais, a resignação, o caminho sempre igual até ao fim... corresponde, afinal, à realidade de demasiados.
Apesar da escrita directa, esta não é uma leitura fácil. As emoções que desperta são, na sua maioria, sombrias. Mas da tristeza crescente, que culmina num final esperado, mas nem por isso menos marcante, sobressai a ternura de um verdadeiro exemplo da lealdade inquebrável do cão ao seu dono... e, neste caso, também na do dono ao seu cão.
Li a Mão esquerda de Cervantes deste escritor e simplesmente adorei. beijinhos
ResponderEliminarAdorei este livro
ResponderEliminarAcabei o livro hoje, o primeiro que leio em português, foi bastante bom
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