Dois Corpos Tombando na Água (Alice Vieira)

De amor e de perda, de melancolia e de desespero, de noites recordando o abandono e memórias, tantas memórias... São emoções profundas as que este livro expõe, com a nostalgia do amor perdido, depois de tantas marcas deixadas. Poemas de uma poderosíssima intensidade emocional, onde as palavras constroem imagens de uma beleza marcante, mas onde são os sentimentos que reinam, profundos, intensos, com uma expressão devastadora.

Há algo de fascinante na emoção expressa ao longo deste livro. Lê-se o primeiro poema e, desde logo, as palavras cativam, pelo ritmo, pelas imagens impressionantes, mas principalmente pela força dos sentimentos. Há todo um espectro de emoções a transparecer nesta poesia, desde as sombras deixadas pela perda ao vago carinho que se sente por uma boa recordação. Surge uma interacção quase palpável entre a voz que fala de dentro de cada poema e o alvo das suas palavras. As emoções são claras, intensas... genuínas.

Dos sentimentos, passa-se às imagens e, da solidez concreta de uma rua ao vago nevoeiro de uma prisão invisível, cada cenário serve também para dar forma às emoções: à espera, ao desespero, à saudade daquele "tu" tantas vezes repetido e tantas vezes recordado. Define-se, assim, a força de uma ausência e é, talvez, essa ausência que mais marca na totalidade da poesia contida neste livro.

Impressionante tanto pela beleza das palavras como pela força das emoções que estas transmitem, a poesia de Dois Corpos Tombando na Água deixa na memória uma imagem de perda, mas também de uma nostálgica superação. Melancólico, mas profundamente emotivo, um livro belíssimo.