Um banqueiro... anarquista. A conjugação destas duas palavras parece, por si só, uma contradição. Contudo, o protagonista deste pequeno texto assume-se tanto no seu papel de banqueiro como no do único verdadeiro anarquista, a nível teórico e prático. O que é aqui apresentado é, na forma de um diálogo (com um interlocutor pouco participativo, é certo, mas diálogo ainda assim), a argumentação com a qual o protagonista da história se assume anarquista, bem como o processo que o tornou num rico banqueiro.
Tratando-se de um livro bastante curto e com uma premissa aparentemente simples, o que primeiro surpreende ao longo da leitura é a forma como um texto que tem como pontos essenciais uma exposição de raciocínios, com o que é uma lógica aparentemente imaculada, se revela como estranhamente envolvente. Argumentação sobre sistemas políticos, sobre o conceito de anarquia e sobre as ficções sociais, tendo estes elementos como ponto dominante de todo o texto, surpreende que não falte envolvência em momento algum, talvez devido à intrigante forma como o protagonista caminha para as suas conclusões, talvez até pelo tom de segurança inabalável com que as apresenta.
Há também algo de muito actual neste livro, já que, na figura do banqueiro que se liberta enriquecendo e nos argumentos com que se justifica, há muito em comum com o cenário dos nossos dias. Além disso, através das opções e das expressões do protagonista - e não é surpresa que tudo isto é magnificamente escrito, com total fluidez - é possível reconhecer um tipo de personalidade que não se limita a um determinado tempo, com a oposição entre princípios e acções e a necessidade de os apresentar como compatíveis - quer o sejam ou não.
Breve, mas fascinante, há neste pequeno livro muito de bom para descobrir. Quer pela caracterização da personagem, quer pela reflexão sobre as teorias políticas, quer ainda pelo interessante exercício de lógica, esta é uma obra que vale a pena ler. Muito bom.
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