Ao regressar a casa depois de um baile de Carnaval, Maria fala com um rapaz vestido de Mefistófeles que se lhe apresenta como seja o Diabo. Mas não o Diabo tal como os mitos o apresentam. O homem (ou o demónio, ou o deus) que se apresenta a Maria diz não se definir como a ideia geral que todos conhecem dele. E explica-se, apresentando-se como uma versão bem diferente de si próprio, ao mesmo tempo que reflecte sobre o seu verdadeiro papel no mundo e sobre o mundo tal como ele o vê.
Sendo a história do encontro entre Maria e o Diabo uma simples introdução às reflexões e reivindicações deste, é curioso notar que os monólogos do Diabo nunca se tornam aborrecidos. Com laivos de um humor estranhamente cativante e, ao mesmo tempo, com uma profunda reflexão sobre a crença, nas suas múltiplas formas de vivência, o Diabo que aqui é apresentado é uma figura diferente, estranha, fascinante. Alguém com um papel importante a desempenhar nos rumos da existência.
Até o mais simples dos fragmentos da conversa do Diabo apresenta algo para reflectir. E apresenta-o de forma ao mesmo tempo complexa e cativante, sem menorizar o tema, mas desenvolvendo-o de forma acessível, com a fascinante fluidez de escrita que já seria de esperar numa obra deste autora. Há, portanto, todo um mundo de pequenas e grandes coisas a ponderar, desde o papel da religião na vivência de cada um à necessidade da convivência entre opostos.
Mas há também uma história e, do encontro de Maria com o Diabo, resultará ainda um final curioso e surpreendente, tanto na forma como encerra o episódio da conversa como enquanto reflexão sobre a forma como se lida com o aparentemente impossível.
Trata-se, portanto, de mais uma leitura rápida, mas vasta em material de reflexão. Interessante, de leitura cativante e com a fascinante forma de escrita que define a obra de Fernando Pessoa, esta é também, uma obra impressionante. Muito bom.
Sem comentários:
Enviar um comentário