Ao receber a visita de uma jovem realizadora que está a trabalhar num filme sobre os acontecimentos trágicos de Riverton, Grace dá por si a reviver o passado. Apesar das décadas que a separam dos acontecimentos, os seus fantasmas permanecem vivos e a recordação de uma história cheia de sombras e de segredos, de uma história que só ela conhece por completo, lembra-lhe que o tempo é curto e que, consideradas as tragédias da sua própria família, não pode partir com o segredo que guarda. É hora, portanto, de quebrar o mistério e contar a sua história: a da criada que chegou a Riverton sem saber exactamente porquê, mas cuja história se ligaria à dos senhores de uma forma inimaginável.
Depois da maravilhosa experiência de leitura que foi O Jardim dos Segredos, as expectativas para este livro eram as melhores. E não me desiludi. Há uma estranha magia nos livros desta autora, um toque de fascínio que se insinua desde o início e que se vai tornando mais e mais intenso à medida que o mistério se adensa, para culminar numa revelação poderosa e de uma força emotiva impressionante. Uma história vasta em complexidades, mas escrita de uma forma envolvente e com uma beleza tocante e onde cada personagem se torna familiar de uma forma muito própria.
Cativa, desde logo, a forma como a história é contada, na primeira pessoa, pela voz de Grace, a mulher que olha para o passado. O seu papel de criada deu-lhe a possibilidade de, de uma posição de quase invisibilidade, ver muito e saber ainda mais. Além disso, esse papel serve também para caracterizar uma época de divisões, onde a barreira entre "nós" e "eles", entre senhores e serviçais, era aparentemente intransponível. Grace representa o perfeito exemplo deste contraste, ao mesmo tempo que, do seu papel de criada e algo mais, observa, nas outras personagens, a definição das linhas de conduta aceitáveis - e a sua subversão.
Pois nem só de Grace vive esta história e ao seu crescimento com o tempo e a experiência das dificuldades, vêm juntar-se outras personagens igualmente fascinantes, tanto entre os que têm um maior protagonismo, como entre as figuras mais secundárias. Do ambiente dos serviçais, destaca-se uma certa mudança de mentalidades proporcionada por Nancy e, principalmente, por Alfred. Do mundo dos senhores, é Hannah a principal figura, com o seu lado rebelde, mas com uma grande consciência das consequências, e com um papel determinante na grande história de segredos e tragédia que é, afinal, a deste livro.
Porque de segredos se trata, de um passado onde cada segredo tem as suas consequências, desde as ligações familiares de Grace às marcas deixadas pelas experiências da guerra e, claro, às ligações de amor impossível mas que é imperioso manter. E é aqui que o melhor deste livro se revela: os fantasmas de Grace são nítidos, quase palpáveis, e as sombras de toda uma vida são apresentadas com a intensidade dos sentimentos genuínos. Há momentos, ao longo deste livro, que são de uma força emocional devastadora e, se em todo o livro a escrita da autora é de uma fluidez belíssima, nesses momentos o resultado é impressionante. É fácil sentir com as personagens. É fácil sofrer com elas.
História da permanência do passado para lá do momento em que sucedeu, das marcas deixadas pela perda e da necessidade de escolher, tendo em conta as consequências, O Segredo da Casa de Riverton é, acima de tudo, a história das pessoas que a povoam, mas também a história de um lugar, com todas as memórias que o percorreram. Intenso, misterioso e comovente, um livro que fica na memória. Impressionante.
Muito bom.
ResponderEliminarGostava agora era de ler o novo romance da autora «As horas Distantes» :)
Tenho esse livrinho para ler :) penso que será para breve. Entretanto, também comprei "Horas distantes" e vem de oferta "O jardim dos sentidos" da autora (penso que não me enganei no nome do livro)
ResponderEliminarEstou com bastantes expectativas e relação a este!