Quando a mãe de Ava lhe envia um email a dizer que a irmã
gémea morreu num incêndio, Ava dá por si triste e desconfiada ao mesmo tempo.
Zelda sempre adorou dramas e as circunstâncias da sua morte parecem demasiado
perfeitas. De volta ao local onde cresceu, Ava vê as suas suspeitas subitamente
confirmadas. Um email de Zelda dá-lhe a primeira pista para o que parece ser
mais um dos jogos da irmã. Mas está viva ou não? Para saber a resposta, Ava
terá de seguir as pistas, de A a Z. E, pelo caminho, talvez venha a descobrir
algumas verdades desagradáveis que não conhecia ainda.
Um dos aspectos mais impressionantes neste livro é a forma
como a autora consegue reunir um grupo de personagens falíveis e, sem parecer
criar grande empatia em relação a elas, desenvolver uma história completamente
cativante. Apesar de serem gémeas, Ava e Zelda parecem ter vivido numa
rivalidade constante, e essa mesma rivalidade estende-se, aparentemente, para
além da morte de uma delas. São também o fruto de uma família bastante
disfuncional, o que significa que as qualidades das diferentes personagens não
são propriamente os seus traços mais evidentes. E, no entanto, a história é
intrigante desde o início e cada revelação é um novo passo num crescendo de
intensidade que culmina num final completamente surpreendente.
Além disso, não importa realmente que empatia não seja o
ponto forte de todas estas personagens. As suas vidas imperfeitas, os pontos em
que tudo pareceu correr mal, os segredos, os problemas, as doenças e os vícios…
tudo se conjuga num grupo de individualidades bastante interessantes. E sim, os
defeitos estão lá, e não há grande redenção a conquistar, mas, ainda assim, há
evolução pelo caminho. Uma evolução feita de passos em falso e de espíritos
quebrados, mas, ainda assim, algum tipo de progresso. E no fim, tudo parece
fazer sentido – mesmo que as respostas nem sempre sejam as mais agradáveis para
as personagens principais.
E depois há a escrita, igualmente centrada na acção, no
desenvolvimento das personagens, nas emoções e atitudes que desencadearam tudo
o que se segue, com uma necessariamente forte componente descritiva, uma vez
que as histórias e memórias do passado (lugares, pessoas, acontecimentos) são a
base da situação presente. E, contudo, com uma estranha intensidade, não
motivada pela acção em si, mas pela aura de mistério que parece envolver até a
mais pequena das coisas. Isso faz parte do que desde o início desperta
curiosidade… e continua a crescer até ao fim.
Intenso, intrigante… e cheio de surpresas. É esta, pois, a
essência deste livro. Uma história cheia de mistérios e de disfuncionalidade –
mas também de um estranho tipo de amor fraternal. Muito, muito bom.
Título: Dead Letters
Autora: Caite Dolan-Leach
Origem: Recebido para crítica
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