No momento em que regressa a uma casa vazia, Lydia apercebe-se imediatamente de que a sua vida nunca mais será a mesma. O marido desapareceu, levando as filhas com ele, e não deixou qualquer sinal do seu destino ou do porquê da partida. Sem saber o que fazer, Lydia procura respostas junto do patrão do marido, mas as que dele obtém só lhe trazem mais confusão e o anúncio de uma tragédia. As pistas são escassas. As certezas ainda menos. E, sozinha num país em guerra, mas incapaz de se render, Lydia sabe que tem de encontrar a ajuda possível e de descobrir as respostas que lhe faltam. Para que possa encontrar as filhas, se ainda for possível.
Um dos aspectos mais marcantes deste livro - muito à semelhança do que acontece em A Mulher do Plantador de Chá - e também um dos seus traços mais cativantes é a forma como a autora consegue enquadrar num cenário em constante mudança - e em tempos de revolução - um enredo que é, acima de tudo, um percurso pessoal. A acção passa-se na Malásia e os tempos em que decorre são de guerra, sendo por isso inevitável que este contexto histórico esteja bem vincado ao longo de toda a narrativa. Mas a história é acima de tudo a de Lydia e da sua família e, assim, os grandes acontecimentos são aqueles que os afectam directamente. O equilíbrio que a autora estabelece entre estas duas facetas da narrativa é algo de delicado e de fascinante - e é também a raiz na base do que torna este livro tão memorável.
Tal como o título indica, esta é, acima de tudo, uma história de separação: a separação de Lydia das suas filhas, principalmente, ainda que não só. E este obstáculo criado por razões desconhecidas é o ponto de partida ideal para uma narrativa cheia de revelações. O ponto de vista de Lydia, o da mãe desesperada, realça o impacto do desconhecido, a necessidade de saber, de encontrar o caminho. A situação das filhas, demasiado jovens para entender por completo o que se passa (ou talvez não) faz sobressair o papel dos inocentes apanhados num conflito que não lhes pertence. E a conjugação destas duas facetas faz nascer um percurso muitas vezes doloroso, comovente nos mais inesperados dos momentos, repleto de afectos e de vulnerabilidades... e sempre, sempre fascinante de acompanhar.
Também a escrita é fonte de fascínio, pois, em todos os momentos, grandes e pequenos, a autora consegue encontrar as palavras certas para maximizar o impacto das circunstâncias. Seja o desespero de Lydia ou a incompreensão das crianças, o medo ante os momentos de perigo ou a tristeza ante o que parece ser uma tragédia consumada, tudo flui com uma mestria tal que todos os sentimentos se expressam em todo o seu genuíno poder. E, assim, é fácil entrar na pele das suas personagens, viver com elas, sentir com elas. E continuar com elas no pensamento, mesmo depois de chegado o fim da história.
Eis, pois, um livro que abre portas para o passado - um passado histórico, que, em tempos de grandes mudanças, acolhe em si uma história intemporal. De afecto, de amor, de perda, de desespero. E de uma esperança contra todas as probabilidades que é talvez a alma de uma narrativa onde tudo, mas mesmo tudo, é fascinante. Emotivo, intenso, misterioso, surpreendente, um livro que marca do início ao fim. E que recomendo a todos, sem reservas.
Título: A Separação
Autora: Dinah Jefferies
Origem: Recebido para crítica
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