Forçada a deixar para trás a vida e a carreira na sequência de um artigo que levou longe demais, Leah Stevens muda-se para a Pensilvânia na companhia de uma amiga que acaba de reencontrar. Mas as dificuldades não se cingem a ter de se habituar a uma nova profissão e ao papel de forasteira numa vila com pouca afeição pelos desconhecidos. Primeiro, surge a descoberta de que uma mulher muito parecida com ela foi brutalmente agredida. Pouco depois, Leah descobre que a sua amiga, Emmy, desapareceu. E, embora de início as explicações pareçam relativamente claras, pelo menos no que diz respeito ao primeiro caso, não tarda a que as primeiras pistas apontem num sentido bem diferente. Emmy não é quem aparentava ser. Há até quem pense que ela não existe. E, se se aceitar essa teoria, então a responsabilidade do que ela deixou para trás pertence a Leah... cuja vida pode muito bem vir a desabar de vez.
Narrado na primeira pessoa e, portanto, acompanhando muito de perto os sentimentos e apreensões da protagonista, um dos primeiros aspectos a sobressair neste livro é a forma como a autora equilibra um enredo complexo e cheio de intrigas convergentes com uma fluidez narrativa que prende desde as primeiras páginas. É fácil entrar na história e sentir a aura de mistério que alimenta a vontade de saber sempre mais. E é fácil também entender a difícil posição de Leah, o que faz com que cada instante, desde as grandes reviravoltas às mais pequenas descobertas, ganhe um novo impacto.
Há um tema subjacente a toda esta história e a forma como a autora o desenvolve é fascinante. A ideia de que nunca ninguém se mostra por completo e, assim, ninguém é apenas o que aparenta ser está presente ao longo de toda a narrativa e manifesta-se de diferentes formas. Emmy é, evidentemente, o ponto central desta perspectiva, com toda uma vida assente em mentiras. Mas, na verdade, esta visão também se aplica a todas as personagens, desde o ligeiramente sinistro Theo à aparentemente crédula Paige. E, claro, sem esquecer Leah, cujo instinto de sobrevivência faz com que vá ajustando os seus passos ao ritmo que as circunstâncias parecem ditar-lhe.
E é interessante como esta visão geral emerge de uma teia bastante intrincada - e porém muito fácil de acompanhar - de intrigas e de mistérios. Há múltiplos enigmas presentes na história de Leah e daqueles que a rodeiam, desde a questão das chamadas anónimas ao mistério do desaparecimento de Emmy, não esquecendo também o passado e a forma como os acasos se revelaram algo mais. Múltiplos pontos aparentemente pouco relacionados acabam por convergir num todo mais complexo. E, no fim, é este todo que fascina, pois o que parecia um percurso relativamente simples (embora assente em múltiplos segredos) acaba por se revelar algo mais vasto, que culmina num final onde nem tudo fica encerrado, mas cujo último ponto de viragem parece coincidir com o momento perfeito para deixar a história.
Eis, pois, um livro onde ninguém é o que parece e em que todos os segredos se encaminham para uma verdade que pode ser dura, mas é a verdade. Um livro intenso, misterioso, empolgante, que prende desde as primeiras páginas e não larga mais até ao fim. E um livro, então, onde tudo é memorável, tudo cativa, tudo surpreende. Onde tudo atinge o melhor dos equilíbrios para dar voz aos desconhecidos... que se escondem dentro de cada um. Recomendo.
Título: Uma Perfeita Estranha
Autora: Megan Miranda
Origem: Recebido para crítica
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