O mundo da falsificação é um meio perigoso, onde muitos segredos se guardam e tudo depende da reputação. Por isso, quando Adam Diehl, reputado coleccionador de livros com algumas relações duvidosas, é encontrado às portas da morte e com as mãos decepadas, é inevitável que todos os envolvidos no meio fiquem em alerta. Um dos seus conhecidos - ainda que não amigo - era Will, namorado da irmã e, em tempos, exposto enquanto falsário. Mas não há provas que o impliquem e, por isso, as atenções da polícia rapidamente se desviam dele. O problema é que nem todos estão dispostos a abandonar a perseguição tão facilmente e, embora tendo jurado deixar o mundo da falsificação para trás, Will sabe que o passado o pode apanhar um dia. E que, para proteger a família que almeja construir, precisa de ser mais esperto que o seu experiente adversário.
Partindo de um crime misterioso e expandindo-se depois para um submundo um tanto peculiar, este é um livro que tem como principal ponto forte a poderosa aura de mistério que parece rodear não só os grandes acontecimentos como as próprias personagens. Claro que a morte de Adam cria, desde logo, uma certa curiosidade em saber quem foi o culpado, como fez para deixar tão poucas pistas e porque cometeu ele o crime. Mas há muito mais do que isso para descobrir nesta história e um dos maiores enigmas de todo o enredo reside no próprio Will. Will, que conta a história, que molda o rumo da narrativa às suas próprias emoções e perspectivas, que consegue despertar uma empatia incrível com os seus laivos de vulnerabilidade. E que se mostra mais complexo a cada nova revelação, fazendo do leitor seu confidente e, assim, preparando-se para o surpreender.
É que não são só os acontecimentos em si que surpreendem, mas a forma como o narrador os vai moldando. A forma como se dá a conhecer através de laivos de sentimento, de decisões difíceis, de uma visão do seu mundo que é, toda ela, uma luta consigo mesmo. E isto tem vários efeitos positivos. Primeiro, o estranho fascínio que a figura do falsário regenerado (mas posto perante a tentação) parece exercer. Depois, a capacidade de moldar o mistério à sua imagem, dando o máximo impacto a cada momento inesperado. E, por fim, a perspectiva de um confronto sem heróis nem vilões, mas em que, com cada parte a defender os seus interesses, grandes segredos terão de vir à superfície.
É esta talvez a principal qualidade deste livro: a forma como o autor consegue fazer de cada personagem muito mais que o que parece à primeira vista, traçando-lhes laivos de inocência onde nenhuma existe, ou apontando culpas óbvias que não o são assim tanto, afinal. Claro que no cerne de tudo isto está Will, com toda a sua absurda mestria em guardar segredos e em construir histórias para os preservar. Mas ninguém é apenas o que parece: nem as amizades são perfeitas, nem os inocentes são assim tão ingénuos, nem os culpados são os que mais parecem querer assumir-se como tal. Tudo é mistério, em suma. E, por isso, tudo surpreende.
E assim, a imagem que fica é a de um livro onde nada nem ninguém é exactamente o que parece ser, e em que cada segredo é apenas a porta de entrada para novos e mais intrigantes mistérios. Enigmático e intrigante, um livro cheio de surpresas. Muito bom.
Título: Os Falsários
Autor: Bradford Morrow
Origem: Recebido para crítica
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