Juliet ainda não conseguiu superar a morte da mãe e a única forma que encontrou de lidar com a situação foi continuar a escrever-lhe cartas, que deixa agora no cemitério. Cartas que não deveriam ser lidas por ninguém. Mas, um dia, alguém lhe responde e, obviamente, não é a mãe. De início, Juliet fica furiosa, mas a percepção de uma dor comum com o desconhecido faz com que comecem a corresponder-se. O problema é que o estranho não é propriamente um desconhecido para ela. Declan Murphy é um rapaz com uma reputação, temido por todos e constantemente metido em sarilhos, mas o que revela nas cartas é algo muito diferente do que o mundo vê. A verdade é que Juliet e Declan têm muito em comum. Mas o mesmo acaso que os ligou traz à superfície coincidências estranhas. E, quando já têm tantas batalhas no caminho, a possibilidade que surge pode ser demasiado para suportar.
História de jovens à descoberta de si mesmos, ao mesmo tempo que tentam superar (ou sobreviver com) circunstâncias difíceis, este é um livro que promete, à partida, bastante emoção. Mas o grau que essa emoção atinge é toda uma surpresa, que começa para se insinuar aos poucos, para depois se erguer num crescendo devastador. Ambos os protagonistas estão em situações difíceis logo no início do livro, mas, à medida que a armadura cai e as revelações vão ganhando voz, o impacto de cada golpe é poderosíssimo, ao ponto de ser quase impossível não sentir as dores dos protagonistas.
Isto é particularmente marcante, não só pelo simples facto das emoções que desperta, mas pelo estranho equilíbrio que se sente ao longo de toda a história: momentos devastadores, uma história cheia de sombras e sofrimento... e, porém, com uma estranha leveza na voz que insinua esperanças futuras. Ora, tendo em conta a história de Declan e de Juliet, este equilíbrio de esperança e desespero é crucial para o impacto da história. Juliet, a lidar com a morte da mãe e com o fantasma de culpa que sente. Declan, carregando nos ombros o fardo de um momento que tudo destruiu. E, ambos, perdidos dentro de si mesmos, a encontrar a força de que precisavam no mais inesperado dos lugares.
Talvez seja isto o mais impressionante de tudo: a forma como a autora constrói as personagens, dando-lhes histórias dolorosas, mas, acima de tudo, emoções reais. Ninguém é perfeito nesta história, até porque os traços mais cativantes das personagens emergem das suas vulnerabilidades. Mas todos são capazes de crescimento e redenção. E isto não se aplica só aos protagonistas, mas também àqueles que os rodeiam, sejam os amigos que estão lá para os apoiar, sejam os que, talvez inconscientemente, contribuíram para o seu sofrimento. Há esperança, em suma, e é isso o mais marcante nesta história cheia de momentos comoventes.
No fim, é isto que fica: a imagem de uma história feita de sofrimento e de esperança, de superação e de descoberta, de afecto e de redenção em todas as suas formas. Intenso, comovente, memorável, enternecedor. Extraordinário, em suma.
Título: Guarda-me para Sempre
Autora: Brigid Kemmerer
Origem: Recebido para crítica
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